Pensa numa pessoa que tem talento para contar uma história complicada e cheia de nuances. Pois Paula Hawkins, que eu já conhecia de “The girl on the train” se superou nesse segundo romance.
Um thriller que é contado como um bordado; pouco a pouco os muitos mistérios vão se apresentando e tudo começa a fazer sentido.
“Into the Water” se passa numa cidadezinha à beira de um rio no interior da Inglaterra. O curso d’água perpassa a cidade toda e tem uma parte, ao pé de um penhasco, que parece uma piscina. Nesse lugar, algumas mulheres morreram afogadas em circunstâncias misteriosas.
A primeira foi Libby Seeton, acusada de bruxaria e de ter seduzido um homem adulto e “pai de família” com apenas 13 anos de idade (a culpa é dela, o coitado foi enfeitiçado…), que foi jogada do precipício como punição, depois de sofrer inúmeras dores e humilhações, em 1679. Em 1920, Anne Ward foi castigada da mesma maneira por ter matado um marido abusivo. E a conta não parou por aí; as mulheres “problemáticas” da cidade sempre acabam dessa maneira.
A história começa com Jules voltando à cidadezinha para cuidar da sobrinha adolescente que ainda não conhecia, após a misteriosa morte da irmã, com quem ela não falava mais há muitos anos. A versão oficial é que a irmã se suicidou jogando-se do mesmo penhasco. Meses antes, a melhor amiga dessa sobrinha também havia morrido da mesma forma.
Nel Abbot, a irmã morta, era uma fotógrafa e artista visual famosa. Fascinada pela história da piscina natural que fazia mulheres desaparecerem, dedicou praticamente sua vida estudando e pesquisando sobre o tema. Fez perguntas indiscretas e, na verdade, era uma das “problemáticas”. Uma ironia fina que tenha acabado da mesma maneira.
Durante a investigação, onde o principal detetive não é exatamente isento, os personagens da cidade vão revelando aos poucos os seus muitos mistérios. Uma investigadora novata na cidade começa a juntar os pontos de maneira desconfortável para todos.
A história da relação conflituosa entre as duas irmãs mostra como o mesmo evento pode ser interpretado de maneiras tão diferentes por duas pessoas. Semanas antes de morrer, Nel tenta desesperadamente falar com Jules, que não atende as ligações, pois a relação das duas era extremamente problemática e cheia de mágoas por parte de Jules.
Traumas de infância, relações entre pais e filhos, preconceitos, segredos muito bem guardados. Tudo se faz necessário para desvendar o mistério.
Olha, muito bem bolado e com um bônus que eu adoro: capítulos curtos. Para mim é a receita perfeita do vício. Com capítulos curtos você sempre pensa “só mais esse”, “são só mais duas páginas”, em quando vê, o livro acabou.
Recomendo demais.
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