Bom, não me lembro exatamente como é que “The travelling cat chronicles” (tradução livre: “As crónicas de um gato viajante”), de Hiro Arikawa, veio parar na pilha de livros ao lado da minha cama. Provavelmente comprei por indicação. Ou não. De qualquer maneira, um livro sobre um gato, que viaja, e que ainda por cima se passa no Japão, não dá para deixar passar, né?
Como todos os livros no estilo, é meio bobinho e com pseudo lições de vida. Ou seja, bem clichê. Mas eu simplesmente não resisto a histórias que se passam no Japão. Esse país está no topo da minha lista para visitar!
Bom, mas vamos à história, que tem alguns capítulos contados em terceira pessoa e outros pelo gato que dá nome ao título.
Começa com um gato de rua elegendo o capô de uma van prateada como seu lugar favorito para sonecas. O dono da van vai deixando água, comida, e às vezes uns petiscos, quando percebe o visitante.
Satoru, o tal dono da van, tem por volta de 30 anos, mora sozinho e trabalha o dia inteiro. Um belo dia, o gato é atropelado por um carro e, a primeira coisa que ele pensa: preciso de ajuda. Vou chamar o moço da van, pois ele parece confiável. Vai até a porta do moço e mia até que ele aparece.
Satoru leva o gato até o veterinário, cuida dele com todo carinho e chega até a se mudar de apartamento para poder abrigar o peludo, já que o atual não aceita animais. O gato é todo branco com uma manchinha no rabo que lembra o símbolo do número 7 em japonês (na). Então, apesar de macho, o bicho recebe o nome de Nana.
Os dois viram grandes amigos por cerca de 5 anos, até que do nada, Satoru recolhe os apetrechos de Nana, coloca-o dentro da van e vai visitar um amigo.
Na conversa com um amigo, o gato entende que Satoru está tentando deixar o gato para o moço cuidar. O rapaz está recém separado (porque é um banana e deixa o pai controlar a sua vida) e acaba não dando match com Nana, o que inviabiliza a adoção.
Na visita, os dois relembram a infância, quando encontraram um gatinho perdido numa caixa, com a pelagem exatamente igual a Nana. Kosuke, o rapaz, queria muito ficar com o gatinho, mas o pai não deixou. A família de de Satoru deixou então ele adotá-lo, e o gatinho ficou com a família até que os pais do menino morressem num acidente de carro. Satoru, então com 12 anos, foi adotado por uma tia solteira, irmã da mãe, mas teve que doar o gato a outros parentes, pois a tia se mudava muito e a maioria dos apartamentos não aceitava animais.
Imagina a dor do menino, que perdeu os pais, os amigos (pois teve que se mudar) e até o seu gatinho. Bom, mas Kosuke, sua primeira opção, não pode ficar com Nana. Então o jeito era ir para a próxima opção.
Acontece que na conversa entre os dois, eles acabaram esclarecendo coisas do passado infantil que inspirou Kosuke a mudar de vida e procurar a esposa, para quem sabe, terem seu próprio gatinho.
A próxima viagem da van, indo bem mais longe e viajando dias, foi até a fazenda de um dos colegas do ensino médio, que foi muito próximo a ponto de compartilhar sua própria avó com o amigo. A questão é que Yoshimine, o rapaz em questão, não era muito próximo de animais, e achava que gatos só serviam para caçar ratos. Tanto que logo antes da visita, havia encontrado e adotado um filhote para ajudá-lo na tarefa.
Nana estava amando demais viajar de van e não queria ser adotado. Então treinou o filhote para simular um desentendimento, de modo que Satoru teve que desistir e partir para a próxima opção, um casal que ele conheceu na faculdade.
Sugi e Chikako tinham uma pousada aos pés do monte Fuji; durante a faculdade, Sugi e Satoru acharam outro gatinho abandonado (mas dessa vez ele não podia ficar com o bichinho, já que estava morando com a tia). Então Chikako, cuja família amava animais, ficou com ele.
Satoru tinha uma queda por Chikako (inclusive porque ambos partilhavam o amor por animais), mas não investiu porque sabia que Sugi era apaixonado por ela. Mais uma vez, por razões diversas, a adoção de Nana não rolou.
Estranho é que ninguém perguntava porque ele queria doar Nana e a autora trata isso como um grande mistério, como se a resposta não fosse óbvia: ele tinha uma doença terminal e não queria que seu grande companheiro ficasse sozinho quando ele se fosse. Desculpe o spoiler, mas não tem como não adivinhar isso logo no comecinho da história.
A questão é que Satoru passou sua curta vida sendo um sujeito muito gentil, querido, atencioso, super bem comportado e amando animais. Mas, por algum motivo, talvez a cultura, não se comunicava muito bem com as pessoas — tanto que apesar de muito querido, acabou sozinho, voltando a morar com a sua tia (com quem também tinha algumas questões de comunicação).
E o resto é claro que não vou contar.
Mas a história, apesar de previsível e cheia de clichês, é bonita, delicada, bem contada e tem uma vibe muito parecida com o filme “Perfect days”, do Wes Anderson. Aquele Japão simples, original, só que nesse caso, com belas paisagens e um bichano incluso.
Eu curti. Se você está pensando em tirar férias mentais e dar uma voltinha na van prateada, recomendo demais!
A boa notícia é que o livro já foi traduzido para o português como “Relatos de um gato viajante”e está disponível na Amazon do Brasil (é só clicar nesse link para comprar o seu exemplar).
[…] Resenha do livro “The travelling cat chronicles” (tradução livre: “As crónicas de um gato viajante”), de Hiro Arikawa. O texto escrito está nesse link. […]