Encontrei “Das Haus der Frauen” (Tradução livre: “A casa das mulheres”), de Laetitia Colombani num mercado de pulgas e resolvi levá-lo por dois motivos: o primeiro é que tinha gostado muito de “Der Zopf” (A trança), resenhado aqui, e gostado muito.
O segundo é porque a edição fazia parte de uma coleção que eu amo, onde os livros são no formato A6 e encadernados com tecido (tem até fitinha de cetim para marcar). A capa também era linda (sim, podem me julgar; sou dessas…).
Fazia já algum tempo que eu não lia um livro inteiro em alemão, então fica aqui minha dica para quem está aprendendo: essa autora é perfeita. A narrativa é bem linear, a estrutura da história é simples e a linguagem bem acessível.
A história é fictícia, mas baseada em fatos históricos. No final, a gente fica sabendo do trabalho de pesquisa que fundamentou o livro, o que o torna mais interessante.
Solène é uma advogada francesa que mora em Paris; profissional competente, fez tudo o que a sociedade e, principalmente, seus pais, esperavam dela. Em vez de seguir seu sonho de ser escritora, estudou direito, associou-se a uma banca e dedicou-se de corpo e alma ao ofício.
Eis que um belo dia, está no tribunal quando seu cliente recebe uma sentença desfavorável, apesar dos esforços imensuráveis de Selène em defendê-lo. Ele não se conforma e coloca fim à sua vida jogando-se da escadaria do prédio, ali mesmo, logo depois da sentença.
Esgotada, Solène entra em colapso e tem um burn out que a obriga a se afastar do trabalho. Ela começa a fazer terapia, mas a apatia ainda é enorme. Ela passa a maior parte do tempo em casa e não sai para quase nada.
Solène começa a avaliar a sua vida, suas escolhas, um casamento terminado, seus sonhos abandonados, tudo. Ela sempre amou escrever e, talvez, por isso, tenha se dado tão bem na advocacia. Mas esse trabalho já não a emocionava mais; então começou a pensar como seria a sua história dali em diante.
Seu terapeuta recomenda que ela faça um trabalho voluntário; aí é que a moça vai parar na Casa das Mulheres, um lugar onde mulheres refugiadas, vítimas de violência doméstica ou sem teto podem se abrigar temporariamente, mesmo que esse tempo se estenda por anos. E melhor, elas podem levar junto seus filhos, se tiverem.
A história de Solène é fictícia, mas o Palais de La Femme realmente existe em Paris e foi inaugurado em 1926 por Blanche Peyron. A autora estudou minuciosamente a vida dessa extraordinária mulher, tanto que sua breve biografia, todo o processo de compra e reforma do prédio é relatado em capítulos alternados, particularmente interessantes.
No começo Solène fica um pouco resistente, pois, como pertencente à classe mais alta, sempre evitou esses assuntos, digamos, mais desconfortáveis; como seria tratar com gente miserável, provavelmente sem educação — algumas dessas mulheres de outras nacionalidades que provavelmente nem falam o idioma? Não que ela fosse uma insensível. Mas, já estando em estado depressivo, será que esse contato não iria piorar ainda mais?
Mas ela cedeu porque, afinal, era apenas uma hora por semana. E o trabalho, mamão com açúcar: ficar à disposição no salão principal para escrever textos para quem precisasse.
No começo há um certo estranhamento, tanto da parte dela como das mulheres que ficam fazendo tricô num canto enquanto conversam. Até que um dia, uma se aproxima pedindo para ela Solène escrever uma carta de reclamação com relação a uma compra com defeito. Depois uma senhora refugiada quer escrever uma carta para o filho, outra quer enviar uma missiva para a rainha da Inglaterra, e assim vai indo.
Solène vai se envolvendo nas histórias delas, e entendendo que são todas sozinhas; só têm a comunidade e a amizade para se apoiar. Que juntas, podem enfrentar o mundo e chorarem umas nos ombros das outras quando for preciso.
Tem até aula de zumba com um professor brasileiro (ele aparece apensas como figurante). Enfim, uma história bem emocionante onde absolutamente todas as personagens femininas têm seus dramas pessoais acolhidos por outras mulheres.
Não é nada surpreendente, não tem reviravoltas e a narrativa é bem linear. Então, se você estiver precisando de algo assim, recomendo bastante. É belo e comovente.
A boa notícia é que tem versão em português, mas preciso fazer uma observação. O original desse livro é em francês, idioma que eu não consigo ler — mas a edição em alemão tem o título de “A Casa das Mulheres”, apesar do nome do lugar ser “Palais de La Femme”(no meu pobre francês eu traduziria como “O palácio da mulher”). Vai ver que a tradutora alemã achou que casa era mais adequado que palácio.
Mas aí fui ver se tinha em português e no Brasil saiu como “As vitoriosas”. Logo pensei: devem ter mudado para não confundir com o livro e o seriado muito famosos “A casa das 7 mulheres” e não causar confusão.
Pois, só para checar, fui olhar o título original e, olha que interessante: o nome do livro em francês é “Les victorieuses”. No fim, os alemães é que mudaram o título.
Enfim, se você quer esquentar seu coração nesse inverno lendo esse livro em português, é só clicar aqui e comprar direto na Amazon do Brasil.
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