Um livro triste, que faz pensar muito.
“Die Tarnkappe” (Tradução livre: “A carapuça”), de Markus Orths é daquelas obras que faz a gente refletir sobre a condição humana, suas limitações, dores e tristezas.
Tudo começa quando Simon, um funcionário de uma empresa de reclamações (imagina que fardo a pessoa viver de responder reclamações), extremamente metódico, vê um mendigo pedindo esmolas no seu ponto de tram (a história se passa em alguma cidade alemã). Num relance, apesar do chapéu e da bala-clava em pleno verão, ele reconhece Gregor, seu amigo de infância de adolescência, com o qual compartilha uma terrível história com mais outro colega, na cidade onde todos moravam.
Gregor era de uma família muito rica; Simon não entende bem a situação, que fica ainda mais misteriosa quando Gregor aparece no apartamento de Simon e pede para que o amigo cuide de uma mala e não a abra em hipótese alguma. Os dias se passam e Gregor não volta. Simon vai guardar um álbum de fotografias antigas (ele é um músico que sonha em fazer trilha sonora para filmes e perdeu a esposa num acidente estúpido; uma telha caiu na cabeça dela enquanto caminhavam pelo bairro) e encontra uma sacola de supermercado com uma carapuça dentro. Ela é de uma material parecido com couro e traz manchas de sangue e cabelos, que ele logo reconhece sendo do amigo.
Com o tempo, descobre que a tal carapuça tem o poder de deixar quem a usa completamente invisível. Na sua vidinha besta e sem cores, Simon fica fascinado e começa a observar as pessoas em seus momentos de intimidade. Ele não é um pervertido; apenas tem curiosidade de saber se todos são tão tristes como ele. Como a gente só vê o que já tem dentro de nós, independente de sermos invisíveis ou não, ele conclui que sim, toda gente é infeliz. Ele chega mesmo a colaborar com duas mortes como se estivesse sob o poder da carapuça e fazendo uma boa ação.
O capuz e seu superpoder são tão fascinantes quanto viciantes; com o passar dos dias, ele percebe que está perdendo cabelos e sua cabeça está ficando cheia de feridas. Mas, ao mesmo tempo, nota também que não consegue mais se separar da carapuça; está viciado em usá-la. Numa tentativa de libertação, faz algo que se arrepende depois. Na busca de seu amigo perdido, acaba descobrindo a chave de toda a trama.
Bom, como eu disse, a história é tristíssima e serviu para que eu concluísse que não queria uma carapuça dessas nem por todo dinheiro do mundo. A invisibilidade não é um superpoder que me atraia, em nenhuma situação. E para você?
Recomendo muitíssimo.
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