Solar

Semana passada fui acompanhar o Conrado no hospital (ele operou o joelho e já está ótimo, se recuperando muito bem), de maneira que foram horas e horas de espera. O que foi ótimo, pois consegui devorar o excelente Solar, do Ian McEwan.

A primeira vez que ouvi falar desse autor foi por causa do livro que deu origem ao excelente filme Desejo e Reparação. Depois li “Na praia” e o fabuloso “Sábado“.

Solar é, na minha opinião, o melhor de todos. Conta a história do físico Michael Beard que ganha o prêmio Nobel antes dos 30 anos e não consegue produzir mais nada de notável depois disso. Ele vive da fama e assume cargos apenas para emprestar prestígio aos projetos. Egoísta e misantropo de carteirinha, esse gordo, devasso e covarde senhor de 53 anos começa o livro no final de seu quinto e fracassado casamento. O sujeito é tão sem noção que é impossível não achar engraçado.

Por uma série de acontecimentos convenientes (para ele), o protagonista acaba se envolvendo num projeto de desenvolvimento de uma nova tecnologia para obtenção de energia solar (daí o nome do livro) e seu nome é associado à preocupação com a sustentabilidade e o aquecimento global (apesar dele estar se lixando para a questão).

Dá para ter uma ideia dos bastidores da cena em torno da sustentabilidade, onde idealistas ingênuos e românticos misturam-se a interesseiros de ocasião, onde, no final das contas, gasta-se muito dinheiro para tudo continuar como está.

Há cenas impagáveis, como quando ele é convidado a “ver o aquecimento global de perto” e se atrasa para a excursão até o navio ancorado no norte do mundo. No meio do caminho, com ventos cortantes e uma temperatura baixíssima, Michael desce do skidoo no meio da neve e vai fazer xixi; aí ele vê seu pênis ser congelado em segundos e precisa da ajuda de conhaque para conseguir guardá-lo novamente.

Há outra em que Michael discute com o principal executivo de sua empresa, Hammer, que desenvolve as células fotovoltaicas. Hammer está preocupado porque ouviu previsões de que o petróleo vai durar mais do que eles haviam previsto. Segue-se o surreal diálogo:

Hammer: Ninguém vai comprar um painel sofisticado da gente se o petróleo só acabar daqui a 30 anos.

Beard: Qual é o problema contigo? Problemas em casa?

Hammer: Nada disso. Só que trabalhei um bocado e agora esse pessoal aparece na TV para dizer que o planeta não está se aquecendo. Fico apavorado.

Beard: Hammer, acredite em mim. É uma catástrofe, fique tranquilo.”

O final ficou devendo um pouco, mas mesmo assim, recomendo com estrelinhas.

2 Responses

  1. Alice Ribeiro
    Responder
    11 abril 2011 at 8:33 pm

    Ligia, adoro suas indicações de livros…

    • ligiafascioni
      Responder
      11 abril 2011 at 9:55 pm

      Que bom!!!!

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