Sabe quando uma pessoa faz um comentário ou uma observação qualquer e, em vez de refutar o argumento, você critica a pessoa? Automaticamente o assunto tratado fica fora de questão, o foco passa a ser quem o está defendendo. Esse erro de raciocínio é tão antigo e comum que tem até um nome: argumentum ad hominem (expressão latina que significa “argumento contra o homem”).
Devia ser óbvio que a validade de um argumento independe de quem o defende, mas não é assim que costuma acontecer com quem não tem como contra-argumentar. Se não se pode contra os fatos, ataca-se as pessoas. Fácil, perigoso, geralmente injusto, mas corriqueiro. É arriscado porque quem muda o foco da discussão geralmente deixa clara a fragilidade de sua linha de raciocínio para os mais atentos, mas adeptos da prática nem sempre se dão conta disso. Aliás, somos todos adeptos da prática (atire o primeiro título de eleitor quem nunca duvidou do que o Paulo Maluf fala só porque era ele quem estava falando), mas alguns ad hominem mais que os outros. Desconfio até que existam viciados.
Esse papo todo é porque, às vezes, quando somos especialistas em algum assunto, acabamos tratando os clientes dessa maneira. O sujeito pede que você repense a solução que está apresentando porque ele não gostou e a tentação que nos acomete é ignorá-lo (o cliente não entende do assunto, é um tosco, não alcança a sua genialidade).
Será que a gente não está subestimando a inteligência alheia? É claro que pode ser um caso de ignorância e mau gosto, mas, depois de se dar conta de como a gente faz isso sem querer no dia-a-dia, talvez fosse mais interessante fazer um esforço e separar claramente as pessoas dos fatos. Ele não gostou? Por que será? Abstraindo o caráter, a cultura e a formação de quem está argumentando, quem sabe a gente pode descobrir que realmente o trabalho poderia melhorar, a solução ainda não está redondinha, que a idéia que ele deu até que pode render.
O que fica difícil de resolver é a crítica pessoal, que não acrescenta nada ao trabalho. Que tal se a gente fizer um esforço coletivo de praticar mais o argumentum e tentar evitar o ad hominem?
Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br
Ricardo Seola
Oi, Lígia!
Muito obrigado pelos comentários, acho que nossa visão de design “business oriented” tem bastante a ver. Desde que comecei a trabalhar com comunicação em Floripa acompanho suas colunas no Acontecendo Aqui, e continuo lendo agora aqui na Itália. Ótimo seu blog, não conhecia, já foi pro reader.
Legal você citar a Livraria Cultura. Cansei de inventar desculpas pra ir a São Paulo só pra passar umas horas na livraria (da Paulista / Augusta). Fazia listinha dos livros que gostava mais e pedia na Amazon, por 1/3 do preço…pena que é assim.
Boa a dica da Época, vou dar uma boa olhada.
Abss!
Robson
Oi Ligia!
Sou estudante de Design Gráfico, e autor de alguns trabalhos de websites, gosto muito do seus posts… entro basntante no blog http://www.design.com.br e vejo alguns post seus lá, bom, criei meu blog no word press tb http://www.robsonmoulin.wordpress.com e lá coloquei um link para o seu site, conheci seus trabalhos pelo meu professor que um dia falou pra gente fazer um trabalho em cima de alguns textos seus sobre gestalt.
Bom é isso!
Abraço!
Leonardo
Oi Ligia,
Primeiramente gostaria de falar que sou admirador dos seus textos e pode-se até dizer que eles me auxiliaram bastante na escolha profissional (estou 1º semestre de Design na UFBa).
Mas, sobre o texto, é preciso sim analisar tudo que um possivel empregador venha falar do projeto. Porem, pondo essa visão num plano mais social acho arriscado não levar em consideração o caráter do seu interlocutor.
Acho que a validade de um argumento muitas vezes está sim associada a postura moral da pessoa que o defende tendo em vista que este pode somente estar querendo gerar conflitos ou se valendo de uma postura hipócrita.
admin
Oi, Leonardo!
Puxa, que legal que você gosta dos meus textos!
Sobre levar em consideração o caráter do interlocutor, concordo com você, até porque a gente faz isso automaticamente. O que eu quis propor é que, pelo menos por um instante, a gente se afaste um pouco e separe a pessoa do argumento para analisá-lo imparcialmente. Em algumas ocasiões (mesmo que raríssimas), até o Paulo Maluf fala a verdade… ehehehe… brincadeiras à parte, penso que a gente não perde nada em tentar isolar o argumento do cliente e pensar a respeito, principalmente analisando por que ele disse o que disse.
Ás vezes, o cliente critica um projeto simplesmente porque não o entendeu (e as pistas para isso estão nos argumentos que ele usou). Se a gente parte do princípio que ele é hipócrita, mal intencionado ou apenas ignorante, pode perder uma informação importante.
Não digo para levar a sério tudo o que qualquer um diz, penso que se deve procurar analisar e considerar o que foi dito e usar TAMBÉM essa informação para tomar a decisão final…
Abraços e obrigada pela visita. Volte sempre!
Lígia Fascioni | http://www.ligiafascioni.com.br