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Cientificamente comprovado

Ok, exceto uma pessoa que tenha participado de um projeto de pesquisa ou tenha um título acadêmico de mestrado ou doutorado, ninguém é obrigado a saber. Então vamos lá:

O termo “cientificamente comprovado” é uma aberração. Se alguém taca esse palavreado numa frase, pode significar uma dessas três coisas:

1) A pessoa não tem ideia do que está falando

2) A pessoa quer enganar você

3) Ambas as anteriores.

Ué, mas como assim?

Prova é um conceito que só existe em matemática (meu conhecimento em direito é próximo de zero, então vamos deixar essa área de lado, ok?). É que prova, nesse contexto, significa que você pode garantir as relações entre causa e efeito em 100% dos casos. A ciência simplesmente não tem como garantir isso. Não existe algo como “prova científica”. Só existe prova matemática.

Em ciência, o que acontece é que você tem uma teoria e faz testes. Nenhum experimento é capaz de provar que uma teoria está certa; os testes só conseguem mostrar que ela está errada (se estiver).

O máximo que os testes podem fazer é apresentar evidências de que é possível que a teoria esteja certa. Mas não tem como provar, a ciência nem tem ferramentas para isso.

Ciência trabalha com evidências e estatísticas; nunca com certezas. Eu sei que é duro, mas é o que está tendo; sempre foi assim, desde a invenção do método científico.

Ah, mas eu li um artigo científico que prova tal coisa“. Leu mesmo? E se leu, entendeu? Gente, um artigo científico é só o relato de que alguém teve uma ideia e quis testá-la. Tem que avaliar e analisar se o tamanho da amostra é suficiente, se o método aplicado leva em consideração todas as variáveis, se outros pesquisadores replicaram e encontraram o mesmo resultado. Se não tiver tudo isso, o resultado é inconclusivo. Artigo científico não é prova de nada; é só o relato de um experimento.

Ah, mas como vou acreditar numa coisa que não é 100%?”. Ora, simplesmente não acredite. Ciência não é para acreditar mesmo. É para observar as evidências e estatísticas e usá-las como base para tomar decisões. 

Funciona assim: alguém desenvolve um medicamento para uma doença com 90% de chances de ser fatal e faz testes; consegue, tipo, 85% de eficácia para aquela amostra. Outros pesquisadores replicam a experiência e acham algo próximo. 

A decisão é: se eu não tomar o medicamento, qual é a probabilidade de dar ruim? E se eu tomar? É complexo. É por isso que a decisão precisa ser de alguém que estudou, conheça todas as variáveis envolvidas e possa fazer a melhor escolha em cada caso. Por isso também não se recomenda a automedicação.

Mas como eu disse: em ciência, não existe 100% de certeza em NADA. Tudo são probabilidades. É assim com absolutamente TODOS os medicamentos que você tomou na sua vida inteira e toma até hoje; desde xarope para dor de garganta até chá de erva-cidreira.

É por isso que muita gente não gosta de ciência; por que não tem mágica, não tem milagre, não tem garantia, não tem 100% de certeza, não tem respostas fáceis. Tem muito esforço, muita pesquisa e muita dúvida.

Mas foi graças ao método científico, com todas as suas limitações, que chegamos até aqui. Por causa dele temos foguetes, computadores, satélites, medicamentos e vacinas, entre outras coisas. Por causa dele é que provavelmente você que está lendo esse texto e eu que estou escrevendo estamos vivos.

Por isso é que teorias conspiratórias são tão atraentes: são simples, sem nenhuma complexidade, fáceis de entender, 100% garantidas, “cientificamente comprovadas” e a pessoa nem precisa pensar. Como resistir, né?

Para concluir, o que tenho a dizer é que estatisticamente as evidências são esmagadoras: vacinas salvam vidas. Vacine-se.

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