Para quem é "de casa"…

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Aparentemente, quase todo mundo que está no mercado sabe da importância de se desenvolver e manter uma boa rede de contatos, ou, para os mais antenados, a tal de networking.

A questão é que parece haver certa confusão com o que viria a ser essa tal rede de contatos. Tem muito figura que acha que networking é a sua coleção de cartões de visita e que serve para pedir emprego quando a empresa onde trabalha o obriga a buscar “novos desafios”. E há uma boa parcela que acredita que a rede é aquela listinha de e-mails para quem se pode mandar correntes, piadas, vídeos espetaculares, anúncio de venda de carro, mensagens musicais ilustradas com “lições de vida”, o seu currículo e até o currículo do seu sobrinho desempregado que está precisando de uma força.

Pois é, uma das coisas que se deve ter em mente é que uma rede de contatos é um conjunto de conexões pessoais e profissionais e que essa estrutura, quer se queira, quer não, tem níveis diferentes. Quando a gente fala em níveis, quer dizer que todas as pessoas merecem respeito, mas algumas têm prioridade e precisam ser tratadas com mais atenção.

Essa história de que todo mundo é igual não passa de figura retórica. Ou você interrompe uma reunião importante para atender telemarketing?

Além de diferenças de prioridade, a gente tem que se dar conta de que algumas pessoas precisam ser tratadas com mais formalidade que outras, pelo menos nos contatos iniciais. Há quem trate o diretor da empresa que acabou de conhecer como se tivesse dividido o apartamento e as bebedeiras com ele durante toda a faculdade.

No mundo dos negócios, hierarquia é uma coisa que existe e deve ser respeitada. O cliente é hierarquicamente seu superior, portanto, os contatos devem ser formais e respeitosos, a não ser que ele sinalize que quer mudar o tom para algo mais informal. Mesmo assim, não se sinta em casa.

Aliás, falando em casa, uma das coisas que mais conseguem destruir relacionamentos (comerciais ou não) e até redes inteiras é a síndrome do “fulano é de casa”. Esse rótulo indica que o fulano em questão será recebido sem nenhuma cerimônia (em boa parte dos casos, cerimônia é sinônimo de educação).

Se o cliente é “de casa”, ninguém mais oferece cafezinho, nem lhe dá atenção (ele sabe onde pegar); se o colega de trabalho é “de casa”, ele que se vire para buscar o material sozinho (gentilezas estão reservadas só para as visitas); tem muito casamento que acaba porque o sujeito acha que não tem nenhum problema em dormir com a camiseta furada e a cueca velha (a mulher já é “de casa” mesmo; se fosse namorada nova, a coisa seria diferente).

Seja no âmbito profissional ou não, vale lembrar que pessoas importantes têm que ser tratadas de maneira especial sempre.

É fundamental reconhecer as diferenças entre os contatos e administrá-los de acordo com o que a situação exige. Há coisas que podem ser contadas na mesa de bar, entre amigos, mas não num almoço de negócios; há fotos que você pode compartilhar com seus amigos, mas não com seu supervisor; há informações que você pode colocar no Facebook, mas não no LinkedIn.

Quando a pessoa perde a noção dessas distinções, acaba contando a sua vida íntima para a pessoa que teve o azar de se sentar ao seu lado no ônibus; chama o chefe por apelido na frente de todo mundo; convida-se para tomar café na casa do cliente; dá palpites na vida particular da sogra e propicia aos colegas aqueles espetáculos constrangedores nas festas de final de ano na empresa. Por mais bizarros que pareçam esses exemplos, já tive o desprazer de presenciá-los todos, pode acreditar.

Na nossa rede de contatos, as pessoas são diferentes, as relações são diferentes e os interesses são diferentes. É importante reconhecer essas diferenças e administrá-las, adequando o comportamento a cada uma. De igual, todo mundo só deve ganhar respeito, gentileza e consideração.

Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br

7 Responses

  1. 4 agosto 2009 at 7:36 pm

    Muito bem escrito, em todas as vírgulas.

  2. 4 agosto 2009 at 9:54 pm

    Muito, muito bom, excelente desde o título até o ponto final !
    Parabéns, Lígia!
    Abraços,
    Renata Rubim

  3. 20 setembro 2011 at 2:01 pm

    Boa Lígia,

    Tiro meu chapéu e saúdo a você e ao texto. Além de bem escrito, traduz uma mensagem que desmistifica a percepção errônea que a grande maioria das pessoas tem sobre networking.

    Meus parabéns!

    • ligiafascioni
      Responder
      20 setembro 2011 at 3:14 pm

      Obrigada, querido! Mande notícias, nunca mais ouvi falar de você! Beijocas 🙂

  4. 9 julho 2013 at 7:39 pm

    Ligia Fascioni, que coisa linda. Um texto bem escrito parece uma música bem tocada, bem cantada. É show.

    Nas minhas aulas de Gestão de Carreira é inevitável falar de Redes de Relacionamento. Utilizo os conceitos apresentados por você lá no primeiro capítulo do livro Atitude Profissional. Importante dizer (principalmente aos jovens) que rede de relacionamentos não é uma teia de aranha nem um caderninho de endereços.
    Esse seu texto ajuda a passar a régua e fechar essa conta.
    Como professor de (muitos) jovens profissionais só posso dizer: parabéns e obrigado.

    • ligiafascioni
      Responder
      10 julho 2013 at 4:07 am

      Puxa, muito obrigada mesmo! Fico cada vez mais bobinha com esses seus comentários….eheheheheheeheh

      Beijos 🙂

  5. Rosana Ortiz
    Responder
    14 agosto 2015 at 9:20 am

    Ligia, ótimo, escrito com clareza e objetividade…

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