Estou em Belo Horizonte agora (sorry, morram de inveja, queridos) para uma palestra e passei boa parte do voo da vinda me deliciando com “O amante detalhista“, de Alberto Manguel.
O livro conta a história de Anatole Vasanpeine, um solitário funcionário dos banhos públicos da cidade francesa de Poitier. Anatole é descrito desde o começo como uma figura sem graça ou ambição. Mas uma coisa ele tem de especial: em vez de olhar o todo, como a maioria das pessoas, tem um fascínio compulsivo pelas partes. Partes de tudo: paisagens, lugares, edificações.
Sabe quando você foca um detalhe e o resto fica borrado? Pois nosso personagem vê tudo assim, sem reparar que vê o mundo diferente, até que descobre o encanto que é o corpo humano em todas as suas minúsculas particularidades: uma dobra de cotovelo, um vão atrás da orelha, uma mecha de cabelos, um dedo, um pulso. Ele não faz distinção se a pessoa é homem, mulher ou criança; apenas admira, embevecido, as singularidades de cada um.
Vasanpeine aprende a fotografar e cria um novo tipo de arte: captura imagens de detalhes entrevistos em um vão de um dos quartos de banho. Atente para o fato de que não é o que se poderia chamar, apressadamente, de voyeur, pois ele fotografa sem ver; apenas a lente da câmera tem acesso ao modelo. Ele descobre o que fotografou e desfruta da obra somente depois que a foto é revelada.
A história é curta, muito bem escrita, e não vou contar o curioso final, mas fiquei tentada a passar um dia olhando apenas as partes das coisas, sem considerar o todo. Preciso contar que é difícil, muito difícil mesmo. Mas vale exercitar esse novo jeito de ver o mundo que nunca tinha passado pela minha cabeça… que tal tentar também?
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