Passageiros marcados

Fotografia: Christophe Gilbert

Toda vez que ouço “passageiros marcados no vôo 3705 da empresa tal, favor dirijam-se ao portão de embarque” fico imaginando que os tais passageiros já fizeram o tal voo e por isso ficaram marcados (quem sabe, a empresa aérea tatua o pulso da pessoa ou pendura uma etiqueta na orelha de cada um, sei lá).

Alguns ficam marcados para o resto da vida e não podem mais viver em sociedade. Por isso, sentem-se humilhados ao serem chamados assim, na frente de todo mundo, para comparecer a um lugar tão pouco simpático como um portão de embarque. Não é justo as pessoas ficarem marcadas só por terem embarcado num voo, né?

Não consigo entender por que é que eles simplesmente não deixam de frescura e falam: “os passageiros do voo 3705…“. Palavra sobrando também é lixo. Vamos contribuir com a sustentabilidade do planeta… 🙂

Será que dá para fazer o redesign da identidade corporativa?

Fotografia: Studio Furia

O que mais se vê por aí, hoje em dia, é gente prometendo turbinar os negócios e aumentar lucros com uma fórmula simples: redesenhar a identidade corporativa de sua empresa.

Se você topou o desafio, provavelmente o que vai ser proposto é nada menos que revolucionar completamente sua marca gráfica*. Os argumentos não variam muito: a atual é muito sem graça, pouco inovadora e já está datada. Há que se tentar uma solução mais moderna, com mais recursos, mais afinada com as tendências.

Os “especialistas” chamam esse sofisticado processo de “redesign da identidade corporativa“. Eles explicam que vão fazer para você um desenho arrojado, inovador e muito criativo que vai diferenciar sua empresa de todas as outras. Vão aplicar isso em todos os lugares e, automagicamente, a marca será reconhecida e valorizada, aumentando seus lucros exponencialmente.

Tudo parece fazer sentido. Contratando um serviço desse naipe, os negócios só podem melhorar mesmo; duvidar, quem há de?

Mas pensemos um pouco melhor. O que é mesmo essa tal de “identidade corporativa” que vai ser redesenhada?

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Bizarrice pouca é bobagem

Tudo começou com um link no Facebook da Winnie Bastian, do Design do Bom. Clicando aqui e acolá, descobri o ótimo Loser’s Archive (é uma brincadeira com a célebre revista de propaganda Lüzer’s Archive). Quem escreve lá são duas publicitárias que se auto-intitulam chatas pra caramba e mais não sei. Só sei que elas são debochadas, inteligentes, espirituosas, ótimas e não consigo imaginar onde é que essas moças encontram tanto lixo engraçado no mundinho publicitário. Olhaqui uma amostra.

Acho que essa marca de desodorante tem uma ideia um pouo equivocada do que seja um homem de verdade...
Acho que essa marca de desodorante tem uma ideia um pouo equivocada do que seja um homem de verdade...

Você pode encontrar Deus

Eles pensam design

Minha ida a BH ainda rendeu uma visita valiosíssima: conheci a Ana Barroso e o Leonardo Dornelas, do Ologia Design Thinking. Os dois são criativos, antenados, competentíssimos e constituíram, até onde sei, a primeira empresa brasileira especializada em design thinking (as outras duas que conheço são focadas em service design: a Spark, de Porto Alegre e a Live|Work, de São Paulo).

Apesar da empresa ser nova (nasceu no início do ano), eles já têm vários projetos interessantes no portfólio; a ousadia está sendo reconhecida pelo mercado. Adorei conhecer essa dupla, que, além de tudo, é muito querida. Virei fã.

Eu em excelente companhia: Ana Barroso e Leonardo Dornelas

Design & Business

Esse foi o tema do debate que aconteceu na noite do lançamento do “DNA Empresarial” em BH, dia 30 de novembro. Conversa animada, muita gente descolada e uma organização impecável, só posso dizer que foi um imenso prazer compartilhar um momento especial com pessoas tão generosas. Estar no mesmo palco que o queridíssimo Jorge Pietruza (Whirlpool Corporation); o grande Lincoln Seragini (Seragini Design) e o talentoso Peter Fassbender (Fiat Latin America Style Center), encheu meu peito de orgulho.

Além de todos os participantes e debatedores, aproveito aqui para agradecer publicamente ao genial Camilo Belchior, que articulou e preparou tudo; ao pessoal da Templuz, sempre muito competente; à Inácia Soares e seu perfeito timming de moderadora; e às empresas que co-patrocinaram o evento: Centro Minas Design e Sebrae MG.

Jorge Pietruza, eu, Peter e Lincoln Seragini.

O debate estava animado

Peter Fassbinder, eu e o Jorge Pietruza.

Eu, Adriana e Daniel, da 2DA

Eu a poderosa Patrícia

Ana Barroso

Meninas espertas da comunicação

Faltaram fotos com o Flávio, o Camilo, a Maura, a Aidé e mais um monte de gente, que pena! Na hora, a muvuca foi muito grande…vamos ter que fazer outra vez…ehehehe…

Formigas renascentistas

 “Especialização é coisa para formigas”. Estava folheando uma revista em um café quando me deparei com essa bomba. A frase me fez pensar. Como assim? Lembrai, leitores, eu tenho um título de doutorado strictu sensu. Quer mais especialista que isso? Era uma entrevista com o cartunista Aroeira, que dissertava sobre seus múltiplos talentos (além de excelente chargista, o moço também toca saxofone em uma banda), dizia que as formigas têm capacidade para aprender e fazer somente uma coisa durante toda a vida, que é carregar comida para dentro do formigueiro. São excelentes no que fazem, porém muito limitadas.

Para ele, o ser humano não precisa ser assim. Tive que ler a entrevista toda para entender o raciocínio, que para mim fez todo o sentido. Olha só: ele não quer dizer que uma pessoa não possa se especializar e todo mundo deva ser generalista (assim, nunca descobrirão a cura para o câncer, entre outras coisas importantíssimas). Especialização é essencial, bitolação é que é o problema! Você pode (e deve) ser especialista em alguma coisa, fazer algo melhor que todo mundo, estudar a fundo algum assunto para fazer o conhecimento andar para frente. No complexo planeta que a gente vive, esse é o único jeito de fazer diferença. O problema é que a história não acaba aí. É que você tem que ser especialista em pelo menos uma coisa, mas também ótimo em várias outras. Muito diferente de não ser bom em coisa nenhuma.

O Aroeira chamou isso de perfil renascentista (eu adorei a metáfora, não é perfeita?). Só para lembrar: no período da Renascença, as pessoas militavam em áreas diversas com a maior desenvoltura e sem preconceito. Rabelais, em 1532, coloca a seguinte frase na boca de seu personagem Pantagruel: “Todas as disciplinas são agora ressuscitadas, as línguas estabelecidas (…) Eu vejo que os ladrões de rua, os carrascos, os empregados do estábulo hoje em dia são mais eruditos do que os doutores e pregadores do meu tempo.

O ícone do Renascimento que resume o espírito da época é Leonardo da Vinci, que, como todos sabem, foi o máximo em tudo o que se meteu a fazer: arquitetou, engenheirou, inventou, esculpiu, pintou, enfim, só faltou mesmo bordar (talvez não tenha faltado; nós é que não sabemos). É claro que o Leonardo é um fenômeno genial, mas a idéia é mostrar que a atuação em várias áreas era corriqueira na vida das pessoas naquela época — elas ainda não sofriam da febre da especialização exclusiva.

Adorei a idéia do Aroeira. Especialização sim, desde que o sujeito não vire formiga. Sejamos todos profissionais renascentistas!

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Escrevi isso em dezembro de 2006, mas penso que tem tudo a ver com os livros que ando lendo…