Muito barulho por nada

Fotografia: Steve Peixotto e Ross Brow

Está rolando uma polêmica na internet por causa de um site, veiculado na imprensa como inovador, no qual o cliente decide quanto quer pagar por uma marca gráfica. Designers (ou não) postam suas propostas e ele escolhe a que acha melhor, numa espécie de leilão ao contrário (o cliente define o preço e os profissionais disputam os projetos).

Pois as comunidades de design estão cheias de gente espumando de raiva, inconformados com o modelo de negócio. Alegam que design é coisa séria demais para ser vendido num feirão, sem nenhum critério, desvalorizando o conhecimento que o profissional deve ter para fazer um trabalho bem feito.

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Barato, rápido, ótimo e… grátis?

Recebi esse desenho por e-mail e fui atrás para ver quem era o autor: Colin Harman estava muito inspirado quando bolou esse diagrama de Venn. Fiz uma tradução livre (naquele espacinho não dava para fazer tudo ao pé da letra), mas acho que isso não serve só para design gráfico não. Aplica-se a tudo: arquitetura, advocacia, decoração, mecânica, gastronomia, faxina, pintura, enfim, qualquer serviço.

Caiu como uma luva, pois estou bem no meio de uma reforma em casa (socorro!). É isso mesmo.

Antenas falantes

Está chateado e não tem com quem conversar? Quer a opinião de alguém, mas não tem a quem perguntar? Pois seus problemas acabaram; olha só as prodigiosas “antenas parabólicas falantes” à venda em Tupã, São Paulo (minha mãe, que mora lá, achou essa placa na rua).

Só não compro uma porque tenho medo que ela goste de conversar sobre assuntos que não domino ou que tenha um sotaque muito forte…

Vamos discutir gosto?

Dia desses, lembrei-me de um fato que ocorreu durante uma viagem de carro a trabalho. Ao passar por um comerciante de beira de estrada que vendia cuias de chimarrão, peles e outros apetrechos campeiros, uma das passageiras murmurou num tom confessional: “Por mim, a minha casa seria cheia desses objetos. Sei que não é bonito, mas eu gosto. Não compro porque tenho vergonha, é muito brega”. Fiquei triste com o desconforto dela em assumir sua sensibilidade estética com tanta reticência, como se fosse errado gostar daquilo que não está na moda. A moça vivia num dilema entre parecer hype e assumir o que a emocionava.

O mundo está cheio de casos assim: pessoas que têm vergonha de admitir que vão às lágrimas ao som de Bruno e Marrone; que não contam para ninguém que adorariam ter um tapete com o brasão do seu time bem no meio da sala em vez daqueles desenhos estranhos que não lhe dizem nada; que adoram cadeiras de espaldar alto laqueadas na cor vinho em tons degradê; que não admitem nem sob tortura seu amor por bibelôs comprados no R$ 1,99. Confesso: tudo que descrevi acima é horrível para mim, de doer os olhos. Mas o que importa a minha opinião se não serei eu a morar na casa, a escutar a música, a olhar esses objetos todo dia? Às favas com o gosto alheio! Cada um tem o direito de construir seu próprio ninho como melhor lhe convém.

E, afinal, o que é belo? O que é feio? As perguntas já torturavam filósofos desde a Grécia antiga, e a discussão permanece inacabada. A atenção sobre o belo sempre foi tão presente na história do pensamento humano que a palavra cosmos, usada para designar o universo, significa exatamento isso: belo (é daí também que vem a palavra cosmética).

Depois de muito pensar, os gregos chegaram ao consenso de que há três espécies de beleza: a estética (relacionada à forma física das coisas), a moral (relacionada ao estado da alma) e a espiritual ou intelectual (relacionada ao conhecimento). Há debates sem fim sobre o assunto em livros dedicados ao tema, alguns muito difíceis de acompanhar (pelo menos para mim).

Para simplificar, vamos combinar que a beleza que estamos discutindo aqui é a estética, aquela percebida pelos nossos sentidos. A “Introdução à filosofia da arte”, de Benedito Nunes, define o belo como “o que agrada ver e ouvir”. Ele ainda acrescenta que o reconhecimento da beleza é uma espécie de visão interior que permite ao observador deliciar o espírito na experiência da fruição. Apesar de haver muitas definições completas e esclarecedoras, agrada-me muito a que apresenta o “Glosario del diseño” (Jorge Filippis): “beleza: propriedade das coisas que nos fazem amá-las, infundindo em nós deleite espiritual”.

Pois é. Voltemos à moça do primeiro parágrafo. Cuias, pelegos e afins não a deixam feliz? Não trazem conforto, boas sensações, paz de espírito? Não despertam amor no seu ser, não agradam os seus sentidos? Então, quem está autorizado a dizer que esses objetos não são belos?

O belo tem a ver com a percepção, que é aquilo que a gente faz com o que os nossos sentidos conseguem captar. As referências estéticas e culturais são uma verdadeira babel, o que emociona um é totalmente indiferente ao outro, o que é sublime para alguém pode ser insuportável para outrem. Como as pessoas são diferentes, com histórias e contextos distintos e, por conseguinte, gostos diversos, é praticamente impossível determinar objetivamente o que é belo e o que é feio.

Então por que deixar que gente esquisita, que você nem conhece, determine o que é feio e o que é bonito na sua vida? Por que sofrer para gostar “das coisas certas” se elas mudam junto com a moda, com o sucesso, com as convenções? Por que se acostumar a acatar sentimentos estranhos aos seus, que nada têm a ver com a sua história? Por que achar que a opinião de alguém que aparece na revista é mais importante que a sua?

Cada um é lindo do seu jeito e constrói o mundo ao seu redor da maneira como lhe emociona, lhe comove, lhe encanta. Coragem, vai lá, tira o pingüim da gaveta e põe em cima da geladeira. Inclusive, ouvi dizer que agora é chique…

Chá de cadeira

Cadeiras com asa de xícara podem parecer bobagem, mas quando a gente vê que dá para pendurar bolsas e casacos, a coisa toda muda de figura.

Quem é mulher sabe muito bem do que estou falando — como a gente sofre para conseguir pendurar nossas companheiras inseparáveis. Taí, achei a solução da designer coreana Sunhan Kwon muito criativa. Bem que poderia virar moda…

Ah, na verdade, a cadeira se chama Café (coffee chair) e achei no Incredible Things.

A vez da estrada de areia

Que o asfalto não tem feito bem para o ambiente, todo mundo sabe. É escuro, concentra calor, reduz a capacidade de absorção de água, enfim, um verdadeiro desastre ambiental. Isso sem falar que usa insumos derivados do petróleo, o que só piora as coisas. Mas, enfim, era a melhor coisa que havia até agora para revestir caminhos. Até agora.

Pois acabei de receber a newsletter do Yanko Design onde os designers Thomas Kosbau e Andrew Wetzler apresentam um projeto em que a areia é transformada em pedra por um processo biológico (acredite se quiser!). Um micróbio bem comum chamado Bacillus Pasteurii consegue cimentar os grãos de areia formando pedras; elas são fortemente compactadas em camadas e o caminho fica estável sem nenhuma gota de óleo.

Meus conhecimentos de engenharia civil não são suficientes para analisar a factibilidade do negócio, mas tomara de dê bastante certo! A ideia pode reduzir de 2 a 3 graus Celsius a temperatura média nas grandes cidades, aumentando em 20% a capacidade de refletir a luz. Iria reduzir também em 39% a emissão de CO2, além de outras vantagens, já pensou?

Quer saber mais? Olha aqui.

Dieta do impostão

Não sou contra pagar impostos; seria ingenuidade achar que dinheiro cai do céu. O governo não gera riqueza; o único setor da sociedade capaz de fazer isso é o formado pelas empresas. Os impostos pagos por elas (e pelos cidadãos, que ganham salários delas) é que formam o bolo necessário para sustentar o funcionalismo público e fazer os investimentos necessários para os setores essenciais: saúde, educação, segurança e infra-estrutura.

Então, o problema não é pagar imposto. É pagar MUITO e receber quase NADA em troca. É que o dinheiro, em vez de ir para os lugares certos, vai para aviões presidenciais, festas oficiais, aposentadorias indecentes, funcionários fantasmas e outras barbaridades; isso sem contar a parte desviada. Assim, não há dinheiro que chegue!

Então, apoio com vontade a campanha Dieta do Impostão promovida pela FIRJAN. A ideia é lutar por menos impostos e mais dos impostos. Aqui tem o link para site, onde você pode assinar o abaixo-assinado pela Reforma Tributária. Vamos lá antes que resolvam ressuscitar a CPMF….