Olha a concorrência aí…
Essa joia foi encontrada no KibeLoco. Designers, tremam!
Placas ridículas
De vez em quando dou uma espiada no blog Placas Ridículas só para rir um pouco. Olha só as mais recentes pérolas selecionadas.
As tais regras
Acontece mais vezes do que eu gostaria, mas quando vejo um trabalho gráfico grotescamente desalinhado, com proporções erradas e um indisfarçável desprezo pela ergonomia, é comum ouvir o seu orgulhoso autor (profissional ou estudante) declarar que ficou assim porque ele é inovador e gosta de quebrar as regras.
Quebrar as malditas e famosas regras, além de ser podre de chique, ainda nos dá uma maravilhosa sensação de transgressão. Quem não gosta?
Pois então. O negócio é que quebrar regras (pelo menos as do design), não é tarefa para amadores. Não basta cortar o cabelo no melhor estilo emo e sair arrastando o mouse descontroladamente para achar que está dando sua contribuição pessoal contra o mercado, culpado de todos os males da humanidade, da caspa aos bugs do CorelDraw.
Para mim, o tal infrator deveria ter pelo menos um histórico mínimo de convivência com as tais regras antes de assassiná-las alegremente. Deveria conhecer seus hábitos, costumes, dificuldades, crises. Ser confidente, parceiro e cúmplice dos conceitos. Frequentar as entranhas da semiótica, ser amante contumaz da teoria das cores, jantar todas as noites com a ergonomia, participar de orgias com a tipografia, tudo isso sem perder de vista as proporções e os alinhamentos, normalmente mais ariscos. Falo de contato diário mesmo, de sentir o hálito, íntimo de enjoar. Até que, com o tempo, a relação se desgastaria e o designer-inovador resolveria dar um chega-pra-lá fatal nessa galera espaçosa.
Um crime sim, mas plenamente justificado pela paixão, pela fadiga, por um propósito, pela libertação. De preferência, quebrar o pescoço de uma por uma em projetos alternados (regricídio em massa é para ditadores surtados). Melhor quanto mais premeditado, mais sutil, mais noir, mais cheio de graça. Ataques vulgares de peixeira não cativam o público (nem os clientes). Para crimes elegantes é preciso cultura e sangue-frio.
O que mais se vê, infelizmente, é designer matando a pauladas perfeitas estranhas, regras que ele nunca viu antes (ou não se lembra). Sujar as mãos para dar um fim cruel a desconhecidas, vamos combinar, carece de um mínimo de dignidade, né? Um verdadeiro barbarismo para quem se diz profissional. Se o sujeito não conhece as vítimas, então elas não lhe incomodam, não existem para ele. Como é possível então quebrá-las, amassá-las, picá-las, estraçalhá-las ou o que for?
Tipos assim não quebram regras. O ar blasé, na verdade, esconde uma profunda ignorância das coisas do mundo em geral e da sua profissão em particular. Puro blefe.
Comigo esse papo de quebrar regras não pega não. Além do mais, detesto covardes.
Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br
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PS: Esse texto foi publicado originalmente em janeiro de 2008. O Prof. Ricardo Martins, na ocasião, chamou atenção para o fato de que, em design, não há regras (específicas), mas princípios (gerais) que norteiam o desenvolvimento trabalho. Só que trocar, no texto, a palavra regra por princípio, perderia um pouco da graça, ainda mais porque a expressão que as pessoas usam é “quebrar regras” mesmo. Então, entendam por favor a licença poética e considerem que onde está escrito regras, leia-se princípios, ok?
O triunfo da logomarca
Não, não vou discutir o termo logomarca aqui, não se assuste. Só de pensar nisso, já começa a me dar coceira; não porque não ache o debate importante — penso ser essencial dar o nome adequado aos bois para o bem da clareza da informação, mas porque o que sei sobre o assunto é tão raso que não dá nem para começar a conversa.
Confesso que era daquelas que abominava a palavra; está certo que nunca cheguei ao ponto de dar um soco da cara de alguém que usava o termo (até porque sou fina), mas pegava no pé dos meus alunos: “designer deve usar a terminologa correta e logomarca não tem fundamentação etimológica“. Onde aprendi a recitar o versinho? No mesmo lugar que toda a torcida do Flamengo, o livro “O efeito multiplicador do design“, de Ana Luiza Escorel, um dos primeiros livros sobre design que li.
Eis que então, depois de tanto acompanhar debates sangrentos (e, com conhecimentos etimológicos nulos, em nada contribuindo), acabo me deparando com o artigo do professor Ricardo Martins (queria ser aluna dele), que de fraco não tem nada. Pois o que é que o sujeito faz no artigo? Apresenta justamente uma fundamentação etimológica para a famigerada palavra, colocando uma pá de cal sobre o argumento que eu vinha repetindo como papagaio há tempos.
Ainda acho que a palavra final deveria ser dada por um etimologista, em vez de um designer, mas para mim, os argumentos que ele apresentou são bem convincentes. Continuo achando a palavra feia, mas também não gosto de ilibado e quinquenio, que me recuso a usar, sem que por isso os termos sejam incorretos.
Quer ver o triunfo da logomarca? Leia aqui.
Jogo de talheres
O designer Konstantin Slawinsk deve ter pensado que aquela arrumação de talheres para o jantar era uma coisa muito chata e previsível. Lembrou-se de um antigo jogo japonês que ele conhecia e bolou o conjunto JOIN; os talheres se encaixam e formam uma escultura sobre o prato. Na hora de comer, é só desmontar a obra!
Pena que os talheres são de plástico, mas também é parte do conceito de misturar as cores. Eu achei bem bonito!
Fiquei sabendo pela newsletter do Yanko Design.
Mobilidade em Floripa
A Claudia e a Elizabeth de Siervi são pessoas muito especiais. Com filhos pequenos e fazendo malabarismos para trabalhar, levar e trazer os pimpolhos para a escola, perceberam que esse problema era de muitas mães. Bolaram um sistema simples que organizava as escalas de quem pegava e quem trazia, mas, observadoras que são, notaram que muita gente tinha dificuldade de locomoção na cidade. Empreendedoras, começaram a bolar o portal MObFloripa, onde estão disponíveis de um jeito muito acessível e organizado, todas as maneiras de se deslocar de um lugar para outro na cidade: de ônibus, a pé, de bicicleta, de carona, de táxi, de helicóptero e até de camelo, se alguém tiver para alugar.
Para quem usa transporte coletivo, lá tem todos os horários e trajetos; para turistas, explica direitinho como se faz para chegar naquela praia famosa ou num cantinho exclusivo. Para quem tem necessidades especiais, também mostra opções para se deslocar sem depender de ninguém. O site é show, bem a cara dessas irmãs de talento.
Conheço as moças porque elas também são associadas da Confraria Empresarial e posso dizer, por experiência, que é gente muito séria e do bem.
A coisa já deu tão certo que o projeto é levar a ideia para outras cidades desse Brasilzão cheio de caminhos desconhecidos.
Só resta mesmo desejar muito sucesso para quem usa o talento para promover a cidadania e melhorar a vida das pessoas por iniciativa própria. Parabéns, meninas!
Para quem tem um sonho
Recebi esse link por e-mail e pensei logo em postá-lo no blog duas motos, pois o assunto tinha mais a ver. Mas depois observei mais um pouco e, ao contrário do que achei no início, isso não é o trailer de um filme, mas uma propaganda do TC Bank de Taiwan, com 3 minutos de duração e baseada numa história real.
Para ser sincera, não vi muita relação entre a história e o anunciante. Mas o resultado ficou lindo, comovente, inesquecível.
Conta a história de cinco amigos taiwaneses, com idade média de 81 anos; um não escutava mais, outro tinha câncer, três tratavam de problemas cardíacos, todos sofriam de artrite degenerativa e pareciam bastante depressivos. Depois de 6 meses de preparação, os rapazes rodaram mais de 1.000 km em 13 dias viajando por Taiwan. E digo rapazes porque tenho cada vez mais certeza: uma moto é uma máquina do tempo disfarçada.
Olha, não tenho vergonha de dizer: meus olhos se encheram de lágrimas. Quem viaja de moto vai entender; mas quem não viaja vai entender também.
Como por algum motivo obscuro não estou conseguindo inserir o vídeo, clique sobre a figura que vai abrir uma janela nova lá no Youtube para você assistir. Imperdível.
Olhos da cara
Não gosto muito de comprar óculos, mas o Conrado adora (tem vários de graus e outros tantos de sol). Pois eu ficaria muito mais motivada se as óticas e lojas do ramo tivessem um mostruário assim, com olhos. Acho que é isso que está faltando. Olhares atentos. E humor.
Essa rede, Kirk Originals, tem filiais em mais de 40 países e essa é a loja londrina. Fiquei sabendo pela newsletter do TheCoolHunter.
Agora Deus vai te pegar lá fora!
Para mim, se tem uma coisa melhor que chocolate, melhor que praia, melhor que música, melhor que quase tudo, é um livro bem escrito. Que delícia navegar pelas ideias bem construídas, pelo humor fino, pela combinação de sarcasmo e ironia na medida certa.
Pois sou fã de carteirinha do Carlos Moraes e não consigo entender porque um sujeito assim não é mais famoso e lido que o Paulo Coelho (que me parece quiabo cru em dia de vento ao som do créu…ahahah).
Descobri esse escritor no ano passado, quando tive o prazer de ler “Desculpem, sou novo aqui“; cheguei a postar a respeito aqui. Essa semana, recém terminei “Agora Deus vai te pegar lá fora: anotações de um padre preso numa cidade sem zoológico“, que foi escrito antes.
O livro conta a história de um padre louco por futebol que, desiludido com o pouco de fé e amor e o muito de ritual a aparência que grassa na igreja, resolve desistir da batina. Ao mesmo tempo, ele é preso por algumas manifestações idealistas e até um pouco adolescentes na época da ditadura. Uma frase aqui, um texto mais empolgado acolá, alguns desafetos além, e ele acaba virando preso político numa cadeia comum numa cidadezinha gaúcha perto da fronteira com o Uruguai. Aí ele descreve os companheiros, as visitas, a rotina, suas dúvidas existenciais. Tudo cheio de humor e lirismo, irresistível até para quem não curte futebol, como eu.
Uma joia que merecia virar filme. Guardem esse nome.
NOTA: Fiz uma pesquisa agra e vi que ele exerceu a carreira de jornalista por muitos anos trabalhando em grandes veículos. Morreu em 2019, aos 78 anos, já aposentado, em decorrência de complicações pós-operatórias.
Palavras que a gente não tem

Palavras sempre me encantaram. Lembro-me até hoje do deslumbramento quando, aos seis anos, comecei a decifrar as primeiras letras. Uma vizinha mais velha (sete anos), cautelosa com a minha euforia, logo alertou: “até agora foi fácil. Você precisa ver quando chegar a palavra borboleta! É a mais difícil de todas!”. Talvez porque tivesse sido prevenida, nem achei a borboleta tão difícil…
Hoje considero dicionários excelentes fontes de entretenimento (tenho até um russo-alemão e desconheço as duas línguas), além de curtir bastante o uso e as combinações das palavras na propaganda.
Há duas peças veiculadas pela rádio Itapema que têm me chamado muito atenção ultimamente. A primeira não é propriamente uma propaganda, mas um aviso da Celesc. O texto, depois de informar que vai faltar luz, termina assim: “para seu conforto e segurança, considere a rede energizada”. Pois é. A segurança até dá para entender – não é para a pessoa fazer instalações achando que está tudo desligado. Mas e o conforto, onde é que entra? Como é que alguém vai se sentir mais confortável sem luz, ainda mais considerando que está tudo energizado? Para mim, o sentido dessa frase permanece um mistério.
A segunda peça é uma musiquinha do Cimento Itambé, onde uma voz feminina entoa efusivamente “quero ter escolha e exclusividade” . Nossa, essa eu não entendi mesmo. Exclusividade em cimento?
As palavras realmente podem ter sentidos inimagináveis. As melhores são aquelas que exprimem situações únicas. Dia desses tive acesso a uma preciosidade nessa área. É o “Tingo: o irresistível almanaque das palavras que a gente não tem”, de Adam Jacot de Boinod. O cara, formado em letras clássicas pela Universidade de Cambridge, trabalhava na BBC em um programa de perguntas e respostas quando foi apresentado a um dicionário de albanês. Lá constavam 27 termos para “sobrancelha” e outros 27 para “bigode”. Fascinado por essas peculiaridades, virou compulsivo por palavras que poucas línguas possuem para descrever situações especiais. O resultado é o Tingo, que ele tão deliciosamente compartilha conosco.
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