Olhos de sol

Para quem estava com saudades do Otávio, olha só como esse moço anda lindo e arteiro…

Curiosidades: Esse rapaz charmoso na foto à esquerda é meu pai nos seus áureos tempos. Essa canoa de madeira na prateleria de baixo, ele esculpiu com canivete enquanto esperava eu nascer. A matéria-prima foi um galho de árvore encontrado na frente da maternidade Carmela Dutra, em Florianópolis, nos idos de 1966. Talentoso, né?

Pena que ele não está mais aqui para conhecer o Otávio…

Criatividade sem dono

— Não repara não, é que trabalho com criatividade, então não entendo muito esses números (nem gosto, isso é coisa para nerds).

— Pois é, a área técnica é muito limitada. Por isso escolhi trabalhar com criatividade.

— Sabe o que é? Não fico bitolado nesses detalhes técnicos porque sou muito criativo, viajo mesmo.

Vivo escutando essas frases de designers, publicitários, ilustradores, artistas plásticos e todos esses profissionais que se convencionou chamar “criativos”. É praticamente um consenso: eles são a parte criativa da sociedade. O resto das pessoas é bitolada, um pouco limitada, tem dificuldade para entender arroubos de inovação. Eu aceitava isso sem questionar muito. Mas, esses dias, ao ouvir pela enésima vez essa fórmula tão pouco criativa, comecei a questioná-la.

De um lado se colocam os nerds (engenheiros, técnicos, programadores, físicos, matemáticos). Do outro estão os “criativos” (designers, publicitários, escritores, artistas). Será que a criatividade é mesmo distribuída de maneira assim tão binária no mercado de trabalho?

Vejamos. A primeira coisa que me vem à mente é que os chips eletrônicos são feitos de silício. E silício, em última instância, é um tipo de areia. Físicos, químicos e engenheiros precisaram encontrar maneiras mirabolantes para adestrar essa areia e transformá-la em computadores, telefones celulares e televisores de alta resolução. Como convencer grãos de areia a fazerem o que você quer? Como sequer imaginar que grãos de areia sejam tão talentosos? Mais que ser criativo, esse povo precisa literalmente tirar leite de pedra…

Olha só o caso dos programadores. É esse povo bizarro que traduz linhas de código escritas em línguas esquisitíssimas no sistema operacional e nos softwares que os criativos usam para desenhar, alterar, distorcer, tratar e animar imagens que antes só viviam numa folha de papel. Existem infinitas maneiras de se escrever um programa – o programador tem que usar toda a sua capacidade criativa para encontrar a melhor solução usando o mínimo de recursos computacionais. É quase como o trabalho de um escritor; o programador precisa dizer para o computador o que ele tem fazer (sem deixar dúvidas) em um mínimo de palavras muito bem escolhidas.

Achar um erro num programa ou numa placa de circuito impresso é um trabalho de detetive que exige tanta criatividade quanto um investigador policial. É preciso colher pistas, testar possibilidades, pensar o que ninguém pensou, ser absurdamente original.

Física é outro lugar onde a criatividade é essencial para se evoluir. Para mim, a teoria da relatividade é a demonstração mais cabal do pensamento lateral aplicado no seu limite. Vale o mesmo para a matemática.

No caso das telecomunicações, entender como funciona a comunicação entre os satélites e as antenas de um mero telefone celular, é de dar dor de cabeça. É necessária muita, mas muita mesmo capacidade de abstração. Reunir um volume gigantesco de informações, tentar combinações improváveis, bolar meios de fazer as conexões, tentar caminhos novos, suplantar os infinitos problemas que aparecem no caminho e mesmo assim fazer funcionar sob pressão. Isso não é usar a criatividade? Então o que é?

Não quero, de maneira alguma, defender aqui que uma função seja mais ou menos importante que o outra, já que todas se complementam. Também não tem nada a ver com níveis de inteligência, já que o profissional tem que ser muito bom para fazer uma coisa realmente original, seja que coisa for, em qualquer área. O que gostaria de chamar atenção, é que às vezes a gente acaba considerando um trabalho como pouco criativo só porque não conhece muitos detalhes dele. A criatividade se manifesta sob muitas formas diferentes. Em comum, todas recombinam informações de maneira original para resolver um problema.

Na minha opinião, a criatividade depende muito mais do profissional do que da profissão. A gente encontra campanhas publicitárias geniais e outras que poderiam ser tudo, menos criativas. Também vê técnicos encontrando soluções praticamente milagrosas e outros que parecem ser desprovidos de cérebro.

Criatividade não tem dono, nem currículo, nem diploma, nem profissão. Ainda bem.

Lígia Fascioni | www.ligifascioni.com.br

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Publicado originalmente em janeiro de 2009.

Menina com potencial

Acompanho vários blogs por aí e muito raramente posto um texto que não é meu. Quando alguém pede para publicar algo aqui, eu sempre me limito a oferecer o link, mas confesso que é porque tenho um ciúme danado dessa minha casinha virtual. Mas esse texto traduz exatamente o que penso e sou fã dessa menina. Guarde esse nome: Juliana Cunha.

Fiquei sabendo porque ela colabora com o delicioso e utilíssimo Oficina de Estilo; lá tinha um link para o irresistível Já matei por menos e virei freguesa.

Olha só o que a Juliana publicou hoje. Queria muito ter escrito isso, então, a única maneira de aplacar a inveja é postando o texto aqui (pelo menos uma parte).

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Professor César (por Juliana Cunha)

Eu estava vendo esse filme, Blue Valentine, que tem um diálogo entre um pintor de parede e sua mulher. A mulher queria ser médica, virou enfermeira e agora fala sobre todo o potencial que o marido tem e desperdiça. Sobre como ele poderia ser um desenhista ou um músico ouqualquer coisa, mas apenas desperdiça o potencial. O personagem do pintor é bem maletinha, mas eu gamei na resposta dele. Ele perguntou que diabos significa “potencial”, potencial para quê? Por que você tem que reverter seu potencial em dinheiro? etc. Ele pinta paredes. As pessoas ficam satisfeitas. Ele vai pra casa fazer o que quiser.

Ser de classe média deixou de significar ganhar entre tanto e tanto por mês e passou a ser uma questão cósmica. É preciso parecer de classe média, ter uma profissão e um salário de classe média. Ousaria dizer que os dois primeiros itens são até mais importantes.

Dentro desse pensamento, é claro que um pintor de paredes não pode ser de classe média. E é claro que se ele tiver uma pinta de classe média está desperdiçando esse potencial. Esse potencial de ser de classe média.

Quer ler o resto? Vai lá no Já matei por menos

Receitas desenhadas

Olha só que jeito mais charmoso a artista plástica Katie Shelly usa para explicar como se faz seus pratos preferidos: desenhando! Devia haver livros de receitas assim, seria muito mais divertido, adorei. Quer tentar? Tem bastante inspiração aqui.

Adorei a cenoura sendo ralada...

Olha a panelinha com cara de feliz quando a comida fica pronta

Achei na Fastco Design.

Logo mutante

Olha só que luxo: o poderoso Emílio Cerri, do Comgurus, me ligou ontem à noite só para dar a notícia. É que os designers do estúdio The Green Eyl bolaram um sistema de identidade visual mutante para comemorar o 25° aniversário do Media Lab, o famoso laboratório de desenvolvimento de novas tecnologias e inovação do MIT (Massachuttes Institute of Technology).

O conceito é bem a cara deles, completamente coerente com a identidade do laboratório — o símbolo, baseado em formas geométricas simples que simulam três focos de luz nas cores primárias, podem ser posicionados de várias maneiras diferentes. Eles fizeram um software que simula todas as combinações montando um mapa de opções onde cada funcionário, professor ou aluno pode escolher uma para colocar no cartão de visitas. Cada combinação escolhida fica reservada para a pessoa e ninguém mais pode usá-la.

É uma ideia bem bacana e completamente sintonizada com a proposta da organização, onde trabalham pessoas especiais e com áreas de formação bem distintas que se inspiram e se combinam mutuamente para desenvolver uma visão de um futuro. Eles também trabalham com o fato de que o significado de mídia e tecnologia estão constantemente sendo redefinidos.

Penso que não serve para todo mundo, principalmente porque os elementos precisam ser suficientemente simples e distintivos para que a marca não perca a capacidade de reconhecimento; assim, eu não caracterizaria como uma tendência, mas como uma maneira muito original de apresentar uma empresa que se distingue por projetos inovadores. Nota 10!

Obrigadão, Emílio!

Olha aqui o vídeo explicando as combinações.

MIT Media Lab Identity, 2011 from readyletsgo on Vimeo.

The cat library

Uauuu! A gente precisa fazer uma estante dessas em casa urgente, nossos peludos vão adorar! Olha só que ideia mais bacana o designer belga Corentin Dombrecht teve — prateleiras que formam uma escadinha para o gato ficar bem posicionado e observar tudo com seu ponto de vista privilegiado.  Vai fazer o maior sucesso aqui em casa!

Clique na foto abaixo para ver o vídeo no Youtube em uma nova janela.

Achei no ótimo Hummmm… I see.