Mesmo com a correria toda, consegui ver dois filmes nessa semana (dificilmente eles vão passar em Berlin; e lá eu tenho que catar os que são exibidos com o som original, geralmente em inglês, pois a maioria é dublado em alemão). Então lá fui eu ver “A pele que habito“, do genial Almodovar e “O palhaço” do talentosíssimo Selton Melo.
Comecemos pela obra de Almodovar. Olha, sou suspeita, pois adoro esse cineasta. Além de ótimo diretor, a capacidade dele de inventar histórias inusitadas é fantástica. Eita homem criativo. Fico pensando de onde ele tira tanta coisa que ninguém tinha pensado antes.
“A pele que habito” conta a história de um médico (Antonio Banderas, irrepreensível) obcecado pela esposa, que morre depois de ter sido totalmente queimada num acidente de carro.
Muitas coisas acontecem, e o sujeito cisma que vai desenvolver uma pele resistente ao fogo. Acontece muita coisa a partir dessa ideia aparentemente simples e a história é tão mirabolante, chocante e surpreendente que só posso classificá-la de genial.
Mas como ele vai até às últimas consequências nessa loucura criativa, preciso dizer também que o filme é bem pesado, desses que a gente fica dias depois pensando e relembrando trechos. Prepare-se psicologicamente e vá. Recomendo demais.
Já “O palhaço“, de Selton Melo, tem um elenco impecável, fotografia linda, direção indefectível e tudo funcionando direitinho. Selton desencantou Moacir Franco, numa das melhores cenas do filme, e até o Ferrugem, o menino sardento que estampava as capas dos livros de matemática da minha infância.
O ponto fraco (além do som bem ruim, mas isso, por algum motivo, é típico de filme nacional) é justamente o roteiro. A história é bonita, mas de tão simples chega a ser simplória. Não há trama, não há tensão, não há emoção. Apenas uma bela historinha bem contada.
Olha, o Selton é genial como ator e uma grande revelação como diretor, mas como roteirista ainda tem bastante chão. Mesmo assim, recomendo ver, desde que não se vá com grandes expectativas.
Ina Pongelupe
Perfeita crítica sobre o filme “O Palhaço”, eu saí do cinema em conflito. Não sabia se tinha achado bom ou ruim, eu resumi minhas considerações na frase: “‘É no mínimo, interessante”.
Mas sim, também acredito que dentre as falhas, o roteiro foi a maior.
😉
Pri-k
Lígia, pela primeira vez preciso contrariar ou talvez só completar suas considerações. Para quem tem uma ligação direta com o Circo como eu tenho, o som e a simplicidade relatados passam despercebidos quado os detalhes do cotidiano Circense são interpretados ricamente, e, causam até nostalgia.
Bjx grande!
ligiafascioni
Oi, Pri-k!
Olha, nunca sequer assisti a um espetáculo de circo na vida, então, por isso, imagino que minhas emoções devam ter sido bem diferentes das suas ao ver o filme. Mesmo assim, consigo ter uma vaga ideia, pois a história é realmente bem poética. E concordo que o cotidiano foi mostrado lindamente; a fotografia está sensacional e a atuação do elenco está mesmo impecável, todo mundo dando show. O único porém, a meu ver, foi o roteiro mesmo…
Beijocas 🙂
Pri-k
Oi, Lígia!
Simmm!! Esqueci de ressaltar que a fotografia está realmente sensacional, maravilhosa, depois das emoções algo em particular já expressado, a fotografia foi o que eu mais gostei no filme. Mas não posso deixar de concordar, que olhando de fora do meu contexto o roteiro é simples e pode não prender a atenção de muitos, pois li nas redes e ouvi vários comentários negativos.
Lígia, não posso acreditar que nunca foi ao circo!! Se um dia você vier a conhecer alguma cia de circo e tiver a oportunidade de conviver também por trás dos bastidores, assista novamente o filme, sinceramente será outro filme e assim você vai entender o que eu senti.
Sempre bom “falar” com você!
Bjxxx
Ênio Padilha
Lígia, querida
Sua crítica ao filme do Selton Melo mostra bem quem você é: mesmo para apontar um defeito você consegue ser suave, delicada e construtiva.
Por isso que eu sou seu fã. (infelizmente não estava em SC no dia da sua palestra em Florianópolis, que eu queria tanto ver).
Abração.
ligiafascioni
Você, como sempre, um gentleman!!!
Dia 23 estarei em Sampa fazendo um repeteco da palestra de Floripa, mas acho que você vai estar em algum outro lugar desse Brasilzão (esse homem não para…ehehehe).
Abraços 🙂
Ênio Padilha
Olha só a ironia do destino: no dia 23 estarei em… Florianópolis!
Mas continuarei de olha na sua agenda. Uma hora a gente se encontra.
Abraço
Fatima
Tenho grande admiração pela obra de Almodóvar ele é o cara que leva para a tela
o que não está na foto, ele filma aquela proximidade que o Caetano diz parecer anormal, de perto, nas pessoas. O Almodóvar filma a dor que se é capaz de sentir num pedaço amputado. Ele é demais. Ele alimenta o expectador naquele desejo que temos de comer algo que não sabemos o que é. Deu pra notar a minha paixão pela arte do cara né? Bom quanto ao Seltom foi impagável naquele filme do Guel baseado em Suassuna, O Auto da Compadecida.Com relação ao “O Palhaço” não vi. Entretanto, assisti na TV a uma entrevista com Paulo e Seltom que foi muito bonita. Minha amiga poeta e prof. Clarice Villac fez uma apreciação em forma de poema. Ela diz que o filme é poesia. Fiquei curiosa pra ver! Fatima/Laguna/SC
ligiafascioni
Oi, Fatima!
Sua amiga tem toda razão. “O palhaço” é pura poesia mesmo. Mas penso que todo filme com fotografia linda, bem dirigido e tem o tema tratado de maneira sensível pode ser poesia, mas também pode ser muito mais que isso se tiver um roteiro criativo… acho que o Selton Melo pode fazer mais. Aguardem, esse rapaz não é fraco não.