Sempre pensei que a maior dificuldade em aprender português era a nossa gramática, já que a pronúncia é bem fácil, pois a gente fala exatamente como se escreve, certo? Errado. Aliás, erradíssimo. Eu nunca tinha me dado conta, mas a nossa pronúncia (pelo menos a do português brasileiro) é uma das coisas mais difíceis para um estrangeiro aprender, veja só.
É que andei distribuindo cartazes procurando parceiros para Tandem na faculdade de música e no centro tecnológico da Universidade Livre de Berlin, que ficam no meu bairro, e estou tendo experiências muito interessantes com o português.
O Tandem funciona assim: duas pessoas têm línguas maternas diferentes e uma quer aprender a língua da outra. Então elas se encontram para um café e conversam a metade do tempo na língua de uma e a metade na língua da outra; a solução é maravilhosa porque você conhece pessoas interessantes e aprende enquanto bate papo.
Pois é, já tenho 4 parceiros: um jornalista e 3 arquitetas. Só que em todos os casos, o português deles é pior que o meu alemão (calcule aí a tragédia…eheheh) então eu acabo ensinando português em alemão… para mim vale bastante, pois só assim vou conseguir ficar fluente, além de ser divertido e descobrir coisas sobre a nossa própria língua que eu nunca tinha parado para pensar.
Como todos estão aprendendo português como quarta ou quinta língua (além do alemão e do inglês, eles falam pelo menos uma língua latina: espanhol, italiano ou francês), a gramática e o vocabulário não chegam a ser um grande problema. O drama mesmo é na pronúncia, além de outros detalhes difíceis até para a gente mesmo entender.
Ontem, por exemplo, gastei horas tentando explicar para o jornalista porque no Brasil a gente fala você e em Portugal se fala tu. No Brasil não se usa a segunda pessoa? A terceira pessoa não é usada só como tratamento formal (o sr. ou a sra.?)? Tive que explicar a história do vosmecê, mas mesmo assim ficou complicado, pois você, além de ser terceira pessoa, ainda é informal. Não bastasse essa aberração, o pronome não aparece na lista de pessoas nas conjugações de verbos das gramáticas (eu, tu, ele, nós, vós, eles; cadê o você? ).
Mas complicado mesmo é um gringo aprender a falar com as vogais nasaladas (eu nunca tinha reparado que tem vogal nasal em quase todas as palavras). O “A” pode ser pronunciado aberto numa sílaba e nasal na outra, na mesma palavra e sem nenhum acento para indicar a mudança (pense em “calmante” ou “cama“; pronuncia-se cAlmÃnte e cÃmA).
O “L” às vezes tem som de “U” e às vezes tem som de “L” mesmo (em “salto” e em “Brasil“, o som é de “U”; mas em “ladeira” e “relógio” o som é de “L” mesmo).
O “O” às vezes tem som de “U” e às vezes é “O” mesmo (veja “mercado” e “objeto“).
O “X” ora se pronuncia como “Z”, ora como “S”, ora como “CH” (confira: “exato“, “excursão” e “xícara“)
O nosso “D” às vezes tem som de “D” e às vezes “DJ” (pense na palavra “saudade”; o primeiro D é normal, mas o “DE” final é pronunciado como “DJI” ou algo parecido). A mesma coisa acontece com o “T”. Tive que inventar várias regras de pronúncia e o sujeito está quase enlouquecendo, porque realmente é difícil.
Isso porque que ele nem imagina que ainda tem “NHA”, “NHE”, “NHI”, “NHO” e “NHUM”….rsrsrsrsr
E o que dizer dos “ÃO”, “ÕE” e “ÃE”? Se o moço já tem dificuldade em falar “UM” ou “EM”, imagine quando tem til. É engraçado porque ele ficava comparando com o espanhol e o francês e realmente falar português brasileiro é mais complicado do que eu pensava. Nós dois chegamos à conclusão que a língua cuja pronúncia é mais próxima da escrita é o italiano mesmo (mas acho que os linguistas já concluíram isso antes).
Olha, o alemão está difícil, mas ainda bem que pelo menos não tenho que aprender português.
Ufa!
Alex
Todas essas dubiedades e incongruências citadas geralmente são decorrentes de nossa forma errada de falar. Não podemos culpar um estrangeiro por se deparar com um idioma (português brasileiro), no qual a fala guarda pouca relação com as normas gramaticais.
Infelizmente este é mais um sintoma da nossa leniência e falta de compromisso com as coisas e um péssimo cartão de visitas do país. Sugiro aos estrangeiros que procurem aprender português com nativos de Portugal, que sabem preservar melhor seu patrimônio linguístico.
ligiafascioni
Oi, Alex!
Não penso que o português de Portugal seja mais ou menos correto que o nosso; são apenas diferentes e refletem justamente nossas diferenças culturais. É como o inglês americano e o britânico; no fundo é a mesma língua, só muda um pouco o sotaque… 🙂
Abraços!
Alê
Achei o máximo o texto e acabei me identificando muito:
1 vez por semana, encontro uma, agora amiga, japonesa para ajudá-la a treinar inglês e ela me ajuda a praticar japonês… Como o nível de inglês dela é baixo e meu japonês está engatinhando ainda as tardes no café parecem uma comédia pastelão.
No fim das contas a gente se entende e ela sempre pergunta como falar as coisas também em português. A troca é bem interessante.
Realmente não é fácil, mas a gente se diverte e a satisfação depois é grande tb!
ligiafascioni
Puxa, mas aprender japonês deve ser muuuuito mais difícil…eheheheh
Força aí, menina!
Pri-k
Nossa!!
Deu até um nó na cabeça… hehe…
Bjx
Leoh Santos
Daqui a pouco você estará fluente em Alemão, adoro seu blog, acompanho sempre.
Clotilde♥Fascioni
E eu que ainda pretendo aprender um pouquinho de francês. Ulálá…
Rosana Conte
kkkkkkkkkkk Estou aqui rindo sozinha ao ler este seu post. Passei por tudo isto quando comecei a ensinar português ao Ringo! Você pode dar o “diploma” a seus novos alunos quando eles conseguirem falar “maçã” (e não “massa”), “carro caro” (com o “r” forte” e depois o “fraco”) e um “10 com estrelinha” quando conseguirem pronunciar “Anhanguera” e “Itaquaquecetuba” ou qualquer outra palavra de origem tupi-guarani. 🙂
ligiafascioni
Vou usar o “Índice Rosana Conte de fluência no português” daqui pra frente. Adorei….ahahahahahahaha
Beijos 🙂
Isadora Tonet
É muito engraçado o português brasileiro, porque se o gringo for conversar com um gaúcho, não vai ter problemas com o “tu”, se conversar com um curitibano, não vai ter problemas com o “DJI”. Mas, se for pra Bahia, quero ver traduzir “oxente, bichinho” pra alemão! ;D