Carnaval alemão
O carnaval é uma festa religiosa e, principalmente, católica. Como boa parte da Alemanha é protestante, aqui não rola muito essa celebração não (a não ser em Colônia; o carnaval lá é famoso). Mas isso não quer dizer que o pessoal não festeje.
No interior, em cidadezinhas pequenas onde há comunidades católicas, há comemoração sim; final de semana passada tivemos a honra de ser convidados para uma delas, já que essas festas não são abertas a turistas ou a pessoas de fora da região.
Bom, já começa que não tem um dia de carnaval, como a nossa terça-feira: é o mês de fevereiro inteirinho. Depois, os alemães têm o equivalente ao que seriam as nossas escolas de samba, só que, para eles, são clubes de carnaval. Isso significa que tem um povo que passa o ano inteiro preparando a festa para fazer bonito, exatamente como no Brasil. Mas as semelhanças param aí mesmo.
Por motivos óbvios, não dá para fazer um desfile de rua (acho que -22 °C caracteriza motivo óbvio, né?), então a apresentação acontece em clubes (nesse que a gente foi, na antiga Alemanha Oriental, eles usaram o lugar onde funcionava antes a sede local do partido).
Há equipes (que talvez pudessem equivaler às alas das escolas de samba) e uma banda (que poderia ser a nossa bateria). Os convidados ficam sentados assistindo ao espetáculo, que mais parece festa de fim de ano de escola. Teve homens dançando muito engraçadamente vestidos de odaliscas; mocinhas em coro cantando músicas românticas; senhores barrigudos contando piadas no melhor estilo do que em bom português chamaríamos de stand-up comedy; coreografias criativas e bem humoradas… enfim, diversão garantida. As almas mais simples serão tentadas a classificar o show como vergonha alheia, mas penso que vergonha mesmo é zoar com pessoas que estão genuinamente se divertindo; achei tudo muito divertido, de um jeito como há muito não via.
Pena que meu alemão nível indígena me impediu de entender as piadas (entendo palavras soltas e algumas frases; mesmo assim a capacidade de processamento ainda é muito lenta para a velocidade dos comediantes locais), mas as que meu personal intérprete conseguiu traduzir eram ótimas.
Todo mundo vai fantasiado e como o objetivo não é seduzir ninguém ou mostrar o silicone novo (os alemães parecem bem inocentes nesse quesito), fica tudo muito engraçado e desajeitado. Claro que tinha bispo, papa, presidiário, Darth Vader, enfermeiras, bruxas, sereias, cirurgiões, vikings e tudo mais. Como não sabia desse detalhe, fui no meu papel mais frequente aqui: alemã meio retardada (as pessoas acham que sou nativa e tentam conversar, mas o papo fica um pouco limitado…eheheh).
A festa dura o mês todo para que todas as cidadezinhas da região possam se apresentar e umas possam assistir às outras (que integração maravilhosa); deve haver um calendário cuidadosamente planejado para isso, claro.
O fato é que mais parece uma festa de família onde todo mundo se diverte de uma forma surpreendentemente pura; depois da apresentação toda, que dura umas duas horas regadas a chope e salsichão, nem eles aguentam mais a marchinha estilo Oktoberfest; aí entra em cena aquela banda que frequenta todos os nossos casamentos e formaturas e corre todo mundo pra pista (ôba!). Gente, o repertório é igualzinho.
Taí uma coisa mais universal que carnaval. Sucessos dos anos 60 a 80. Fato.
Seguem algumas fotos e o vídeo curtinho que fiz com um pot-pourri das apresentações.
Clique no vídeo para ver algumas apresentações (a última é a melhor!). Se não começar automaticamente, clique aqui e vá direto no Youtube.
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Ah, esqueci de comentar um detalhe curiosíssimo; metade da festa para tudo por 15 minutos para que as pessoas possam ir lá fora fumar. O vício tem que ser muito forte mesmo para sair naquele frio….
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