O profissional inovador

Esses dias dei uma palestra em Minas Gerais sobre o profissional inovador. O povo pediu um texto, então, ei-lo.

Comecemos a conversa esclarecendo o que vem a ser esse tal de profissional inovador. Quando a gente diz inovador, está falando daquele sujeito que usa a criatividade para gerar valor para o cliente e está sempre buscando oportunidades de fazer isso acontecer. A frase parece simples, mas é fácil esquecer que a referência é o cliente, esse ser que nos remunera pelo trabalho que fazemos, ou, em última instância, pela mudança que provocamos na vida dele.

É tentador cair na armadilha de investir tempo e dinheiro construindo uma coisa para a qual o cliente não está nem aí, mas que a gente acha que vai ser o máximo da inovação. Em se tratando de profissionais criativos, o ego é uma armadilha perigosa que nunca sossega. Inovação não é para ganhar prêmio ou fazer sucesso na balada, é para provocar mudança boa na vida dos clientes.

Dito isso, vamos aos hábitos que convém desenvolver para tornar a inovação uma prática cotidiana.

1. Não se acomode. O mundo é dos insatisfeitos, daquelas pessoas que não se conformam, que acham que se pode fazer melhor. O profissional inovador não poderia ser diferente, pois está sempre em busca de algo que ainda não existe; você jamais vai ouvi-lo dizer “é, nosso atendimento está ruim, mas há piores” ou “em time que está ganhando (ou empatando) não se mexe“. Nivelar por baixo não faz parte de seus princípios. Seu mantra é “mesmo que os clientes tenham elogiado, ainda podemos melhorar muito“.

2. Seja curioso. As experiências que a gente vive no dia-a-dia são a principal matéria-prima para criar. Inovação nada mais é do que a recombinação de informações que já existem para criar algo novo e de valor. Se a pessoa tem um repertório pobre e convencional, dificilmente vai conseguir fazer recombinações inéditas e valiosas. Se não tem elementos originais, não alimenta seus sentidos com sensações diferentes e inusitadas, corre o sério risco de cair no lugar-comum. Aí, babaus inovação. Experimente uma textura, sabor ou cheiro novo todo dia. Ouça sons que normalmente não escolheria. Dê comidinha nova para seus olhos. Sempre.

3. Não alimente preconceitos. Ok, essa é a mais difícil, pois a gente é geneticamente programado para ser preconceituoso (nosso cérebro categoriza as coisas para economizar energia e processamento), mas faça um esforço para não tirar conclusões antes de ter as informações completas. Se a gente não julga e não tenta encaixar as coisas em caixinhas estanques, o mundo fica maior e mais cheio de possibilidades.

4. Coloque-se no lugar do outro. O nome disso é empatia e faz a gente ficar muito mais tolerante com os erros alheios, além de ser ótimo para acabar com preconceitos. Também abre as portas da percepção para perceber coisas que antes passavam batido. Um bom jeito de potencializar a capacidade de empatia é fazer um curso de teatro. Quer mais empatia do que emprestar seu corpo para dar vida a um ser completamente diferente de você? Toda vez que estiver discutindo com alguém, proponha vocês trocarem de lugar e defenderem o ponto de vista um do outro. É uma experiência transformadora e nem dói tanto quanto parece.

5. Equilibre os lados do cérebro. O lado esquerdo é o racional, analítico, sequencial. O direito é emocional, sintetizador, simultâneo. O profissional inovador sabe usar os dois lados sem privilegiar nenhum em especial, para não ficar manco. A pessoa que é pura emoção e intuição não consegue converter suas ideias em realidade; então é como se não as tivesse tido. Quem é pura razão deixa escapar sutilezas que poderiam ser valiosas. Por isso é que quem usa um lado só, simplesmente não inova.

6. Tenha bom humor. Gente ranzinza gasta muito tempo reclamando das coisas e perde a chance de aprender com situações inusitadas; é como se fechasse as oportunidades para o cérebro “viajar”. Bom humor é essencial no processo criativo. Além disso, excesso de seriedade afasta as pessoas e isso é péssimo, haja vista o fato de que não é possível criar nada sozinho. Bom ter em mente que pessoas com competências diferentes das nossas são indispensáveis no processo de inovação — ninguém consegue ser bom em tudo e inovar sozinho.

7. Estude muito. Conhecimento não cai do céu, é preciso ralar muito, não tem como pular essa parte chata. Saber como executar e tornar real a ideia é tão importante como ter a ideia. Ainda mais porque o estudar amplia em muito a possibilidade de criar, já que aumenta a quantidade de matéria-prima que se tem para recombinar. Malcom Gladwell já demonstrou que não dá para ser excelente em nada se não dedicar pelo menos 10.000 horas ao tema que se quer dominar. Inovação não é exceção.

8. Saiba ouvir. Falar é bem legal, mas a gente aprende muito ouvindo, principalmente o cliente. Às vezes, de uma frase solta a gente consegue desenvolver uma ideia bem original. Ouvir pessoas, de uma maneira geral, é uma experiência enriquecedora, além de desenvolver a paciência, o que não é pouco. Não dá para inovar sem ouvir. Fato.

9. Pense a longo prazo. Faz parte do processo de inovação pensar em como aquela ideia pode se desenrolar no decorrer do tempo. Sustentabilidade não é só ecologia; trata de como manter a coisa funcionando no médio e longo prazos. De que adianta uma coisa ser bacana e encantar o cliente por um período curto, se depois ele quer mais e não consigo entregar? Ser consequente é essencial para inovar com responsabilidade.

10. Acredite no impossível. Já dizia o artista francês Jacques Cocteau: “Não sabendo que era impossível, foi lá e fez“. Isso resume bem o espírito da inovação. Certamente haverá muita gente para dizer que a ideia é impossível, que não dará certo. Se o profissional usou bem os lados esquerdo e direito do cérebro, já terá calculado os riscos e planejado o sucesso. A inovação é a arte de tornar possível o impossível, e todo profissional inovador sabe bem disso.

Ideias que merecem ser espalhadas

Certamente muita gente já ouviu falar do TED, sigla de Technology, Entertainment and Design, nome de uma fundação americana que convida pessoas com ideias que merecem ser espalhadas (esse é o slogan do projeto) para palestras de 15 minutos. Disponíveis na internet no TED.com, já assisti a dezenas dessas conferências rápidas (a assinatura do podcast é grátis), mas nunca tinha participado de um evento pessoalmente. Com o sucesso do projeto, a organização criou o TEDx, uma espécie de franquia gratuita para quem quer replicar o modelo ao redor do planeta. Pois hoje rolou pela primeira vez o TEDxFloripa e tive a sorte de estar na plateia.

Revolução fotográfica

Imagine você tirando uma foto de qualquer jeito, sem se preocupar com foco — concentrando-se apenas no enquadramento. A gente já faz isso hoje (eu, pelo menos, faço) e o resultado fica uma porcaria na maioria das vezes.

Pois imagine se depois, quando você estiver olhando os arquivos, puder escolher o que vai ficar em foco e o que vai ficar borrado. Qualquer foto sua vai ficar parecendo aquelas de revista, onde o objeto focado fica lindo e o resto faz papel de cenário. Pois essa máquina dos sonhos está prestes a se tornar realidade.

Na prática, a teoria é mais divertida!

Nesse feriado tive o privilégio de participar do workshop Inovação + Design Thinking promovido pela dupla dinâmica Maria Augusta Orofino e Maurício Manhães, da InnovaService. Foram dois dias para descolar os neurônios, como disse uma participante. Uma coisa é estudar inovação e design thinking em livros, outra bem diferente é desenvolver um produto inovador na prática.

Eles começam os trabalhos falando do conceito da VaCa RoSa, acrônimo para a técnica de Variação Cega e Retenção Seletiva. A variação cega parte da metáfora baseada no darwinismo, onde a natureza faz variações aleatórias sobre um tema (ou, no caso, ser vivo) e a retenção é feita seletivamente, pelo desempenho de cada uma. Então, no começo houve girafas pescoçudas, orelhudas, linguarudas e até estrábicas. As características que tiveram desempenho melhor e contribuíram para a sobrevivência da espécie foram reproduzidas, fazendo esses animais, hoje em dia, terem pescoços e orelhas bem desenvolvidos. Mas, no começo da variação cega, não havia como saber como ia ser a forma final da girafa.

Inovação: tem palavra mais obsoleta?

Há algum tempo tive a oportunidade de ler um artigo interessantíssimo do Umair Haque, diretor do Havas Media Lab, chamado “The Awesomeness Manifesto”. É difícil traduzir awesomeness, que seria mais ou menos a capacidade de impressionar, causar espanto. Pensei em substituir por incrível, sensacional, deslumbrante e até mesmo impressionante, mas esses são adjetivos e o Haque acrescentou o “ness” no final justamente porque queria um substantivo. Aí fica difícil traduzir, né?

Mas não faz mal, usamos o original e vamos ao que interessa: Haque diz que a palavra inovação soa como uma relíquia da era industrial e que, por isso, a própria palavra precisa ser inovada.

Criatividade sem inovação

O design é irmão da inovação. Não diria que é o pai porque a inovação nasceu bem antes do design (ela nasceu com o mundo: ele, com a revolução industrial). Também não dá para dizer que a inovação é a mãe do design porque há montes de projetos onde os genes inovadores são flagrantemente recessivos. Fiquemos então assim: são irmãos ligadíssimos, unha e cutícula. Pois, no Brasil, um vive chorando no colo do outro porque estão os dois sem pai nem mãe.
Tentando responder porque o Brasil ocupa um longínquo 40o lugar em um ranking mundial organizado pelo prestigiado INSEAD, Nóbrega nos conta que depois de mergulhar em muitos estudos e estatísticas, chegou a conclusões bem tristes sobre a predominância do conservadorismo nas nossas empresas. Simplesmente não há ambiente para inovação no Brasil; o risco é desproporcional aos ganhos. Mas vamos por partes, a fim de que a linha de raciocínio fique mais clara.