A esfinge do mercado

Mas o mercado quer!” Nas minhas consultorias em identidade corporativa, ouço essa frase o tempo todo, principalmente quando o resultado do diagnóstico diz que a empresa possui um atributo essencial que contradiz o que está na moda.

Sempre digo que é mais fácil a gente parecer o que é de verdade. Mais fácil, mais seguro, mais barato, mais honesto e mais lucrativo, por estranho que possa parecer. O problema é que os gestores andam intoxicados por revistas, livros e consultores que não param de repetir mantras como “inove ou o mercado te mata”, “mercado quer isso ou aquilo”. Assim, é compreensível o susto que um empresário leva quando preciso dizer a ele que a sua empresa é conservadora na sua essência (esmagadora maioria), ou que ela não tem uma preocupação ambiental que se destaque da média. É aí que eu ouço: “Mas o mercado quer o contrário! Preciso passar uma imagem de inovação e preocupação ambiental! A identidade é importante, mas tenho que dar o que os clientes querem para sobreviver no meu negócio!!”.

Sobreviver fazendo teatro? Na minha opinião, até uma companhia de teatro precisa ser fiel à sua identidade. A tentação de ignorar o que se é e divulgar o que você acha que o mercado quer ouvir é quase irresistível. Mas fuja dela se quiser sobreviver, e, principalmente, se quiser se destacar. Não estou dizendo que a empresa não deva inovar ou ter cuidados ambientais; mas se ela não se destaca das outras por isso, é porque esse não é seu principal diferencial, não adianta comunicar e não ser.

O que o mercado quer mesmo é verdade. É melhor você assumir suas características e torná-las um diferencial positivo, do que investir muito tempo, muito dinheiro e muito desgaste para mudar a sua essência (sem garantias de conseguir) e ficar igualzinho ao que todo mundo diz que é (inovador, ético, valorizador de pessoas, respeitador do meio ambiente, blá,blá,blá…).

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As tais regras

Quebrar as malditas e famosas regras, além de ser podre de chique, ainda nos dá uma maravilhosa sensação de transgressão. Quem não gosta?

Pois então. O negócio é que quebrar regras (pelo menos as do design), não é tarefa para amadores. Não basta cortar o cabelo no melhor estilo emo e sair arrastando o mouse descontroladamente para achar que está dando sua contribuição pessoal contra o mercado, culpado de todos os males da humanidade, da caspa aos bugs do CorelDraw.

Palavras que a gente não tem

Você sabe o que significa neko-neko em indonésio? É uma “pessoa que tem uma idéia criativa, mas que só piora tudo”. Você já teve um acesso de sekaseka? Essa palavra zambiense é usada para designar “alguém que ri sem motivo”. Em inuíte existe um termo especialmente criado para o ato de ”ir muitas vezes à porta de casa para ver se a pessoa vem vindo”. É iktsuarpok. Os alemães usam backpfeifengesicht para descrever “uma cara que merece um soco”.

Muito barulho por nada

Está rolando uma polêmica na internet por causa de um site, veiculado na imprensa como inovador, no qual o cliente decide quanto quer pagar por uma marca gráfica. Designers (ou não) postam suas propostas e ele escolhe a que acha melhor, numa espécie de leilão ao contrário (o cliente define o preço e os profissionais disputam os projetos). Será que isso prejudica os designers?

Vamos discutir gosto?

Por que deixar que gente esquisita, que você nem conhece, determine o que é feio e o que é bonito na sua vida? Por que sofrer para gostar “das coisas certas” se elas mudam junto com a moda, com o sucesso, com as convenções? Por que se acostumar a acatar sentimentos estranhos aos seus, que nada têm a ver com a sua história? Por que achar que a opinião de alguém que aparece na revista é mais importante que a sua?

Dieta do impostão

Não sou contra pagar impostos; seria ingenuidade achar que dinheiro cai do céu. O governo não gera riqueza; o único setor da sociedade capaz de fazer isso é o formado pelas empresas. Os impostos pagos por elas (e pelos cidadãos, que ganham salários delas) é que formam o bolo necessário para sustentar o funcionalismo público e fazer os investimentos necessários para os setores essenciais: saúde, educação, segurança e infra-estrutura.

Chave de ouro

Em geral, gosto de metáforas, mas confesso que tenho uma implicância especial com a tal “fechar com chave de ouro”. Primeiro porque o fechar, nesse caso, é usado como significado de conclusão ou finalização de alguma coisa, não o ato de trancar ou guardar. É por isso que não entendo o que essa chave (ainda mais de ouro) faz aqui.