Silêncio no tribunal

Como contei no post anterior, Nuremberg foi reduzida a 10 milhões de toneladas de escombros depois da segunda guerra mundial. Os aliados não perdoaram mesmo, pois a cidade era a queridinha do maluco do bigode.

Na verdade, em 1945, quando terminou a guerra, o país inteiro era só caco de telha, tijolo quebrado e um monte de gente morta ou traumatizada, mas a vida precisava continuar. Aí, estudando o que sobrou, os aliados repararam que em Nuremberg havia uma área, fora do centro histórico, que tinha sobrevivido; era o prédio do palácio da justiça, anexo a um complexo penitenciário.

Os crimes e atrocidades cometidos pelos nazistas precisavam ser julgados e os culpados, punidos; para isso, era necessário um grandioso julgamento militar internacional.

O lugar caiu como uma luva, pois além de ter a estrutura necessária para comportar um evento desse porte, também simbolizava a remissão da cidade, antes tão importante para o Nacional Socialismo (nazismo é a redução do termo Nationalsozialismus, nome do partido que originou todo o horror).

Palácio da Justiça
Essa porta tem história para contar

Para chegar lá, foi preciso pegar o metrô para o tal bairro (com o crescimento da cidade, hoje ele nem parece tão afastado). O palácio da justiça ainda funciona como fórum, com advogados, juízes e promotores entrando e saindo com pilhas de papel o tempo todo. Mas o prédio ao lado, cenário do famoso Tribunal de Nuremberg, virou um memorial aberto ao público.

Só tive azar porque a sala do tribunal, normalmente aberta à visitação, estava fechada por conta de uma manutenção no sistema elétrico. Mas a exposição no andar superior é uma verdadeira aula de história. Para quem estuda direito ou gosta de filmes de julgamento, é a glória. Eles explicam como tudo aconteceu, as posições de cada função dentro da sala, as fotos, os vídeos, os réus e as acusações, as penas, as provas, as testemunhas. Enfim, não tem como não se impressionar.

Só a questão logística foi uma coisa impressionante: porque os trabalhos tinham que ser realizados em 4 línguas diferentes (era um tribunal internacional e as partes interessadas falavam inglês, francês, alemão e russo) foram necessários nada menos que 350 intérpretes, que se revezavam no exaustivo trabalho. Foi a primeira vez na história que se usou tradução simultânea nessa escala (antes, a pessoa falava uma frase inteira, dava uma pausa e só então o tradutor falava).

Exposição do memorial

Os advogados de defesa eram tantos que tiveram que construir bancos adicionais (nada confortáveis) para acomodar todo mundo. Na sala ainda havia os juízes, os promotores, os réus, as testemunhas, os fotógrafos, as estenógrafas, os jornalistas e ainda os observadores (além dos intérpretes). Olha, não sei como coube tudo, pois o prédio nem era tão grande.

Bancos construídos em cima da hora para acomodar os advogados de defesa
Prédio onde aconteceu o julgamento

Os trabalhos duraram um ano (novembro de 1945 a outubro de 1946) e o tribunal militar internacional julgou 22 réus, dos quais apenas 12 foram condenados à morte (3 foram absolvidos e os outros tiveram penas de prisão variadas). Os 3 cabeças do negócio, Hitler, Goebbels (Ministro da Propaganda) e Himmler (Chefe da Polícia SS), covardões que eram, suicidaram-se antes.

No final da exposição, tem uma parte bem triste. Eles mostram em cada país do mundo, quantas pessoas morreram em conflitos militares depois de 1945 (e ainda continuam morrendo até hoje). No Brasil foram contabilizados 2.000 durante a ditadura militar e as guerras na África, Bálcãs e Oriente Médio trazem números mais assustadores. Olha, dá vontade de pedir para o mundo parar e descer correndo.

Será que as pessoas não aprendem?

A cidade fortificada de Nuremberg

Nuremberg tem mais de 1000 anos e a cidade antiga ainda é toda fortificada, isto é, ainda tem os muros, as torres e os fossos que a protegem. Hitler escolheu o lugar como a sede dos seus comícios onde insuflava a juventude nazista no ódio contra judeus, negros e homossexuais. A estação de trem (que hoje tem conexão com o metrô) carrega um fardo triste: foi onde mais judeus foram embarcados para campos de concentração ou deportados. Teve um dia que foram mais de 1000 (nossa, só de imaginar a cena já me dá arrepios).

Prédios coloridos e sacadas curiosas

Nada como síndicos e moradores não adeptos ao bege (já declarei guerra a essa cor chatinha aqui) para fazer uma cidade ficar mais colorida. Quando a arquitetura ajuda, então, fica lindo demais.

Ok, essa é a parte dos prédios coloridos. Sobre as sacadas curiosas, vou falar bem no final do post. Antes, observe todas as fotos (seus olhos vão ficar felizes, prometo!).

Oslo

É certo que a percepção que a gente tem da cidade tem relação com o clima; para a gente, que tinha vindo de uma semana praticamente sem ver sol, foi como uma dádiva, literalmente vinda dos céus. O dia em Oslo é só um pouquinho mais curto do que em Berlin nessa época do ano, de maneira que chegamos às 4 da tarde e já era quase noite. Mas em compensação, tínhamos o dia seguinte quase todo para explorar a cidade e ganhamos o sol mais lindo do mundo de presente de ano novo!

Texturas de BH

Essa semana em Belo Horizonte está sendo de muito trabalho, então não tenho muito tempo para bater perna nessa cidade maravilhosa que adoro. Mesmo assim, no final de semana deu para alimentar os olhos um pouquinho.

Olha só que belas texturas deu para ver num passeio curtinho em volta da Praça da Liberdade (essa linda!).

Argentinos geniais

O ótimo “Medianeras”, além de mostrar Buenos Aires sob um ponto de vista bem original (os projetos arquitetônicos menos glamourosos), fala da relação entre um casal que ainda não se conhece, mas que compartilha das mesmas inseguranças num país onde a economia está em frangalhos: um webdesigner e uma arquiteta que ganha a vida como vitrinista.