Pensa numa pessoa genial. Tipo, sei lá, Nikola Tesla. Ou Thomas Alva Edison. Imagina se fizessem uma fusão desses dois e daí nascesse um novo ser humano. Certeza que sairia um Elon Musk.
Acabei de ler a biografia dele chamada “Elon Musk: how the billionaire CEO of Space X and Tesla is shapping your future”, escrita por Ashlee Vance e estou muito impressionada. É claro que muita coisa eu já tinha conhecimento por outros canais (quem se interessa por tecnologia e inovação não tem como não acompanhar as aventuras dele), mas o sujeito é realmente especial. Mas vamos do início.
Os avós do moço não eram gente fraca; por parte de mãe, o avô era um quiroprata casado com uma coreógrafa. Ele virou piloto de avião e vivia levando os cinco filhos em excursões aventureiras e sem muito planejamento. Um belo dia decidiu que o Canadá não era mais um lugar bom para se viver e resolveu se mudar com a família para a África do Sul. Lá, continuou com suas aventuras, voando para a Europa, Austrália e todo o interior da África, ficando inclusive famoso pelos feitos (imagina, era um avião pequeno!). Na família, a cultura era de completa liberdade; as crianças podiam fazer o que quisessem e Elon desfrutou disso na sua infância também.
O pai de Elon era engenheiro eletromecânico e dava ao menino (e aos irmãos, Kimbal e Tosca), todo tipo de brinquedos criativos e livros. A mãe era modelo e nutricionista (Maye Musk modela na área até hoje em dia, já passados os 70 anos, e continua maravilhosa). O menino passava horas mergulhado nos livros de ficção científica e teve seu primeiro programa de computador, um game, vendido para uma revista aos 12 anos de idade. A genialidade era clara já nessa época e ele tem alguns traumas devido ao bulling na escola (o mundo não é receptivo a pessoas tão diferentes); uma vez apanhou tanto que teve que ficar dias internado no hospital. Não morreu porque foi salvo por seu irmão.
O rapaz cresceu e decidiu emigrar para o Canadá, onde tinha direito à cidadania (por causa da mãe), mas o desejo era mesmo ir para os Estados Unidos. Ainda eram os anos 80, mas ele sabia que o Vale do Silício era o lugar para pessoas como ele.
Na época em que estudou no Canadá, ele não tinha quase dinheiro. Então, com um colega, alugou uma casa de 10 quartos e fazia festas inesquecíveis cobrando ingresso. Na primeira noite, arrecadaram o suficiente para o aluguel do mês. As festas eram famosas e sustentaram Musk nos primeiros anos. O povo todo bebia muito, mas ele preferia ficar sóbrio para cuidar dos negócios. Na verdade, a coisa mais surpreendente nele é a combinação de gênio técnico com tino comercial.
Depois de dois anos conseguiu uma bolsa para estudar nos Estados Unidos, e se formou em física e economia na Universidade da Pensilvânia. Ele conseguiu também uma bolsa de doutorado, mas acabou declinando porque queria se concentrar no seu primeiro negócio: um banco virtual (imagina, ninguém pensava nisso naquela época, 1995) chamado Zip2. Trabalhou obsessivamente na programação junto com seu irmão e sócio, a ponto de não terem onde morar e dormirem embaixo da escrivaninha da sala que alugaram para a trabalhar. Parece que o esforço valeu a pena; depois de quatro anos, a empresa se uniu à outra, acabou virando o Paypall e foi comprada pela Compaq, deixando os irmãos Musk milionários.
Mas o sonho de Musk sempre foi construir foguetes para conquistar Marte. E foi nisso que ele investiu boa parte do dinheiro que conseguiu na transação. A ideia era fazer uma fábrica de foguetes que fossem reutilizáveis e baratos. A SpaceX quase faliu várias vezes, teve vários testes e lançamentos errados, foguetes explodiram, o mundo inteiro parecia não colaborar até que, novamente, depois de alguns anos (mais ou menos seis) a empresa começou a sair do vermelho e os foguetes finalmente funcionaram. Hoje eles fazem coisas realmente sensacionais e é a empresa aerospacial mais competitiva do mundo. Dá uma olhada e vê se dá para assistir esse vídeo sem se arrepiar!
Em paralelo, ele toca também a Tesla, empresa de carros elétricos com tecnologia totalmente inovadora. Essa também quase quebrou algumas vezes, pois as exigências técnicas dele são sempre impossíveis, e seus funcionários têm que fazer mágica para conseguir. É claro que, por causa do cuidado nos detalhes, a preocupação com minimizar o custo e a obsessão pela excelência fazem com que ele geralmente erre os prazos de entrega dos produtos que está desenvolvendo.
Deve ser um verdadeiro inferno trabalhar para esse gênio compulsivo, mas há também uma certa reverência e orgulho, pois ele realmente consegue extrair o máximo da capacidade técnica e criativa das pessoas, inovando o tempo todo. É praticamente um Steve Jobs, só que com múltiplos talentos em áreas diferentes do conhecimento.
Em paralelo ele ainda tem vários outros projetos que leva muito a sério: uma empresa de tecnologia em energia solar que tem junto com seus primos, a Solar City; a Gigafactory, que pretende ser a maior fábrica de células fotovoltaicas do mundo; a Hyperloop, que trabalha num projeto com um conceito bem maluco de transporte alternativo (as pessoas seriam transportadas em cápsulas que viajariam em tubos de baixa pressão a uma velocidade de 1200 km/h), a OpenAI, uma fundação sem fins lucrativos que pesquisa inteligência artificial também do ponto de vista ético e filosófico (Elon acha que a IA é uma das maiores ameaças aos seres humanos, se não for bem utilizada); a Neuralink, que trabalha desenvolvendo dispositivos que podem ser implementados no cérebro humano para aumentar suas capacidades; a The Boring Company, que desenvolve máquinas para construir túneis e, finalmente, uma empresa que desenvolve e vende lança-chamas. O sujeito, além de tudo, tem senso de humor.
Sabe o Homem de Ferro? Pois Robert Downey Jr., o ator que faz o personagem, foi pessoalmente visitar Musk na SpaceX para se inspirar. Aliás, Elon já fez várias pontas no cinema e em seriados diversos, sempre no papel dele mesmo. Apareceu mais de uma vez no The Big Bang Theory.
Na vida pessoal, seria de se esperar que o sujeito seja complicado (e é), mas ele tem a guarda compartilhada dos seus 5 filhos (trigêmeos e gêmeos) do casamento com a primeira mulher, colega de faculdade. Durante 4 dias por semana ele fica com os meninos, levando-os para todo tipo de aventura (as crianças já devem estar cansadas de verem foguetes…rs). No começo do livro, depois da última de várias separações, ele pergunta para a biógrafa se ela acha que 10 horas por semana seriam suficientes para ter um relacionamento, pois ele calculou e acha que pode dispor dessas horas para uma nova namorada…hahahahaha
Enfim, o moço nasceu em 1971, então ainda tem muito chão pela frente e planos de morrer em Marte, depois de iniciado o processo de colonização. Parece absurdo, mas vindo dele… sei não!
As conclusões só corroboram o que já se sabe sobre inovação: os estímulos na infância e o acesso ao conhecimento são fundamentais, as conexões e a rede de relacionamentos é muito importante (Elon é um dos melhores amigos do Larry Page, CEO da Google) e, mais do que tudo, é preciso se estar no lugar certo e na hora certa (o tal do adjacente possível). Certamente, mesmo sendo um gênio, Musk não conseguiria realizar tudo isso se não tivesse saído de Pretoria, na África do Sul. Talvez viesse a ser até um empresário bem sucedido, mas não alguém com poder de influenciar o destino da humanidade.
Recomendo
ENIO PADILHA
Li o artigo no aeroporto em Congonhas, SP. Na mesma hora fui até a livraria para comprar o livro. Infelizmente, não estava disponível (acabou, segundo o vendedor). Mas já está na minha lista.
ligiafascioni
Você vai gostar!
Luís Gustavo
Ligia, o seu blog é surpreendente, assim como seus interesses e trabalho. Cheguei até ele pesquisando sobre pregnância. E já que você deixou uma dica de livro, recomendo outra para você: O Arco-Íris da Gravidade, do Pynchon. Vai fundo!
ligiafascioni
Obrigada pelo feedback, mas mais obrigada ainda pela dica de livro! Vou procurar!!
Abraços 🙂