Existem pessoas muito criativas, existem aquelas totalmente loucas das ideias e existe o Neil Gaiman. Gente, de onde esse sujeito tira tanta ideia?
Niemalsland (tradução livre: “Terra do Nunca“) é o primeiro romance do autor, escrito a partir de uma série que ele escreveu para a TV (que nunca assisti e nem tinha ouvido falar).
Junto com Harumi Murakami, penso que é uma das mentes mais criativas da literatura contemporânea. Escritores de ficção, de maneira geral, costumam ser bastante criativos; mas boa parte pega uma lenda ou universo que já foi pensado (tipo Harry Potter, que explora o mundo da magia) e desenvolve. Acontece também com alguns escritores de ficção científica, que partem de uma ideia já iniciada (tipo marcianos ou seres extra-terrestres) e expandem, mas dentro de princípios já mais ou menos estabelecidos.
Mas Gaiman (assim como Murakami) expande o universo de uma maneira bem diferente; eles aumentam as dimensões do que já existe. Criam mundos dentro de mundos, com regras e cenários sem nenhum paralelo. Os personagens conseguem ser sempre muito verossímeis e muito surreais ao mesmo tempo.
E, Nielmalsland, o protagonista, Richard Mayhew, é um tipo totalmente passivo. Morador de Londres e contador, sem nada de interessante na biografia, tem uma namorada dominadora e parece estar sempre alheio, meio desconectado do mundo. Um belo dia, indo para um jantar importantíssimo com o chefe da namorada, encontra uma moça ferida na calçada. Apesar dos protestos da amada, que não quer perder a hora, ele insiste em ajudar a menina estranhamente vestida, que parece muito mal. Leva-a para casa e descobre que ela não é uma pessoa comum; fala com ratos, tem a capacidade de autocura e é perseguida por dois assassinos enlouquecidos.
Pois que a menina finalmente vai embora e Richard tenta voltar à sua vida normal (mesmo depois de uma mensagem na secretária eletrônica de sua namorada terminando tudo). Ele começa a perceber que as pessoas na rua não registram a sua existência; seu cartão do banco não funciona mais; vai trabalhar e as pessoas se comportam como se ele nunca tivesse existido e fosse invisível. Desesperado, tenta entrar em contato com o rato que conversava com a menina na sua casa.
O tal rato o apresenta a um mundo totalmente novo nos subterrâneos da cidade, onde ratos e outros animais fantásticos convivem com humanos que não são reconhecidos no “mundo real”. Ele reencontra a menina e descobre que ela precisa vingar o assassinato de toda sua família enquanto foge de seus perseguidores. Outros personagens vão se juntando, cada um com sua peculiaridade exótica, incluindo até um anjo.
Richard junta-se ao grupo que precisa resgatar uma chave na esperança de poder recuperar sua vida de outrora e fazer parte do “mundo real” novamente. Os desafios são tão imensos que chegam a provocar crises existenciais e alucinações no moço.
Superpoderes, universos paralelos, estações de metrô invisíveis, portas para outras dimensões, passagens subterrâneas por baixo de pontes, chaves mágicas e muitas aventuras mostram o tanto que a mente humana é capaz de criar. Além de tudo, pode-se contat com as reviravoltas e plot-twists que se espera de um romance bem escrito (claro, já deviam fazer parte do seriado).
Recomendo demais a leitura. Lembrando também do maravilhoso “The ocean at the end of the lane“, que é igualmente criativo, melancólico e encantador.
NOTA: Sei lá por que motivos, pelo que pesquisei, a edição brasileira foi traduzida como “Lugar Nenhum“.
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