Demorou, mas saiu
Esse começo de ano está bem corrido, por isso a gente não tinha conseguido terminar o relatório da viagem de 2010 para a Ilha de Chiloé (Chile) no site duasmotos. Não tinha, porque agora já está tudo lá, bem explicadinho para quem quiser curtir as fotos ou repetir a façanha. Clica aqui e sobe na garupa. Você vai gostar, eu agarantio!!
Belo e perturbador
Acabei de ver Black Swan e ainda estou impactada. Pensei que ia ver uma história sobre balé (que adoro), mas não. Esse é um filme sobre dor, beleza e solidão. É lindo, difícil, pesado, inebriante e muito, muito assustador.
Conta a história de Nina, uma bailarina que não é gente, mas uma máquina de dançar, movida pela busca à perfeição. Seu único relacionamento afetivo é com a perturbada da sua mãe, uma ex-bailarina frustrada; por causa dela, Nina não é uma mulher, apesar de adulta. Ela praticamente não tem vida, não tem privacidade, não tem amigos nem prazeres. Só tem o balé. O desafio acontece quando ela ganha o principal papel do espetáculo “O lago dos cisnes“, onde tem que viver, ao mesmo tempo, uma personagem boazinha e outra má. Só que a maldade, ou melhor, a humanidade, nela, é toda reprimida, nunca foi expressada. Nina surta e enlouquece, é perturbador assistir ao processo. Mas ela consegue seu objetivo: a perfeição.
Na minha opinião, devia levar a estatueta de melhor filme do ano. Não sei se está concorrendo à fotografia, mas também merecia. E se não derem o Oscar de melhor atriz para a Natalie Portman, vai ser a maior injustiça da história.
Sabedoria popular
Estava hoje numa loja quando ouvi o seguinte diálogo entre duas manezinhas típicas:
– Pois é, nêga. A gente sabe que o casamento já foi pro saco quando a mulher para de comprar calcinha nova. Aí, já era.
– Pois então, e não é mesmo? A Rosinete começou assim.
Também acho um mau sinal. Ainda bem que a loja era de lingerie e eu estava na fila do caixa…
Estilo para leigos e profissionais
Oscar Wilde, pela boca de seu personagem Lorde Henry, em “O retrato de Dorian Gray” diz uma frase que resume tudo sobre a auto-estima de uma mulher: “Ela se comporta como se fosse bonita. É o segredo do seu encanto“.
A frase não está no sensacional “Livro negro do estilo“, de Nina Garcia, mas bem poderia estar. Pra quem gosta de moda, nada mais essencial. Para quem gosta de pessoas, também. Nina escreve bem e conta como começou a prestar atenção em roupas e sobre a importância que elas passaram ter na sua vida.
O texto delicioso é pontuado por frases bem-humoradas e outras que nos fazem pensar, como essa da Miuccia Prada: “Sua roupa é a forma como você se apresenta ao mundo, sobretudo hoje, quando os contatos humanos são tão velozes. A moda é a linguagem instantânea” ou esse petardo de Christian Dior: “Não é o dinheiro que faz a pessoa ser bem vestida. É o discernimento“. Tudo isso regado regiamente com ilustrações belíssimas de Ruben Toledo; não tem como não amar.
Nina deixa bem clara a diferença entre moda e estilo. E é de estilo que ela está falando, sobre como você comunica ao mundo quem é; como afirma suas convicções e crenças, como se posiciona. Não é um livro sobre certo e errado, sobre como usar xadrez com estampa. É sobre como se apresentar ao mundo sem deixar margem para equívocos. Ela vai até a Grécia antiga e cita o filósofo Epíteto, quiçá um dos primeiros fashionistas da história: “Primeiro, conhece-te a ti mesmo. Depois, adorna-te de acordo com isso“.
Roupas e acessórios, são, antes de mais nada, ferramentas de comunicação. É preciso estar consciente disso e saber usar os elementos certos para dizer o que você quer. Moda é para se divertir; estilo é para se comunicar.
Apesar de ser editora de moda e ter percorrido um longo caminho na área, Nina não aprova as fashion victims, sempre carentes da próxima coleção de algum estilista famoso. Ela usa Malcom Muggeridge para resumir bem a questão: “Só peixe morto segue a correnteza“.
Se você gosta de moda, leia. Se não gosta, leia também.
Arrumando livros
Por conta da reforma aqui em casa, passei a manhã toda empilhando livros em caixas (as paredes precisam estar livres para a pintura). É claro que o trabalho rendeu só mesmo dor nas costas, porque a produtividade foi baixíssima. Cada querido que eu pegava na mão, não resistia e folheava algumas páginas. Sendo que minha biblioteca tem perto de 1.500 livros, imagina só quanto tempo levou. Agora acabei de achar isso aqui no Chongas, e achei genial. Mas acho que o cara que fez o stop motion levou muito mais tempo que eu para arrumar os livros, repara só.
Clicando na imagem, vai abrir uma janela no Youtube. Se não funcionar, clique aqui
Ovos com amor
Se você é como eu, que come com os olhos, adora uma mesa arrumadinha ou quer fazer bonito no jantar com seu amor, olha só o que dá para fazer com um simples ovo cozido. Pena que estou reformando a cozinha (o inferno é aqui…ehehe), senão já iria testar para ver se funciona. Alguém se habilita?
Achei a dica no ótimo Marketing na Cozinha.
DNA Empresarial no Mundo Corporativo
No final do ano passado, gravei uma entrevista no programa Mundo Corporativo, da CBN. Pois domingo ele foi ao ar (só fiquei sabendo agora pelo comentário de um ouvinte). Clique aqui para ouvir ou ver o vídeo sobre o tema DNA Empresarial. Para ver no Youtube, clique aqui.
A gente conversou sobre identidade, imagem, marca, design e até sobre público-alvo, veja que coincidência; o Heródoto Barbeiro e o pessoal que acompanhou fez perguntas muito boas. Vale a pena ir lá conferir!
Paz no mercado

Metáforas são tudo de bom. Elas transferem o sentido original de uma palavra para um novo contexto e, com isso, contribuem muito para a gente se expressar de forma mais didática, organizar melhor os pensamentos e entender com mais clareza nosso tresloucado mundo. Ela se aproveita de idéias conhecidas e familiares para introduzir outras, mais novas e originais. Há que se ter muita cultura e criatividade para dominar essa arte, e não é à toa que a gente encontra verdadeiros mestres do riscado entre os maiores filósofos.
Os profissionais de marketing e os homens de negócios, que não são bobos nem nada, vivem explorando as amplas possibilidades dessa poderosa ferramenta. Só que num mundo mergulhado em testosterona, acabam apelando para o esperados e manjados conflitos e disputas como figura de linguagem. Independente de todos os méritos da obra “A arte da guerra”, do lendário Sun Tzu, não gosto da metáfora. Mesmo tendo inspirado tanta gente boa e servir de referência até hoje, ainda me incomodo com esse jeito de pensar. Acho exageradamente belicoso e o mundo já tem esse ingrediente em excesso.
Lembrei disso numa visita que fiz ao site de um dos maiores escritórios de design do Brasil especializado em gestão de marcas, o Ana Couto Branding & Design. Bem na página inicial, aparece a seguinte frase: “O objetivo de uma marca não é atingir seu público”. Logo depois, vem: “O público não é um alvo”. O que posso dizer de tanta audácia e atrevimento? A-do-rei! Fazia tempo que não me sentia tão identificada com uma abordagem.
O uso constante da metáfora da guerra acaba por provocar esses tratamentos brutais que a gente é submetido todo dia por empresas que se dizem preocupadas conosco. Mas também, o que esperar de alguém que quer nos atingir, que nos considera apenas um alvo? Alvo não interage, é passivo. Fica quieto, só esperando ser espetado ou furado. Ninguém respeita alvo; ele está lá só como exercício, para contar pontos na competição, para somente um ganhar e todos os outros perderem. Alvo é bidimensional, sem nenhum refinamento ou originalidade. Ninguém quer saber o que o alvo pensa, sente, ou quer. É cruel e de mau gosto. Não sei quanto a vocês, mas eu detesto ser vista e tratada como alvo. Precisamos urgentemente de novas idéias.
Aliás, tenho até uma sugestão a dar. Que tal, se em vez de público-alvo, a gente usasse uma metáfora mais parecida com a maneira com que a empresa quer (ou diz que quer) tratar o seu cliente? Simplificaria muito mais os planejamentos, pois o grau de intimidade e atenção que se daria ao freguês ficaria mais definido: teríamos o público-pretê, o público-ficante, o público-namorado, o público-apaixonado, o público-comprometido, o público-pra-casar, o público-amigo-de-infância, o público-colega-de-aula, o público-casinho, o público-conhecido-de-vista, o público-confidente, o público-vizinho-de-porta, o público-amante, o público-sai-pra-lá, o público-só-por-uma-noite, e mais uma infinita gama de ricas possibilidades. Se você não quer ousar tanto, faça como eu e use público de interesse (é sutil, quase ninguém nota, mas a diferença é profunda).
A metáfora da guerra, além de simplista, está datada. Que atingir o mercado, que nada. Vamos seduzi-lo, encantá-lo, atraí-lo, até mesmo desencaminhá-lo, mas jamais pela força bruta. Alvos são para meninos crescidos brincarem. E marketing, vocês sabem, é coisa de gente grande.
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Publicada originalmente aqui em fevereiro de 2008.
Lígia Fascioni | www.ligiafascioni.com.br
Meu pai iria adorar…
…e acho que o seu também. Quem não cansou de ouvir, quando pequeno, que era para fechar a torneira que água custa caro? Agora, em tempos de aquecimento global e esgotamento de recusos naturais, os pais têm uma nova ferramenta para educar crianças (e adultos também, por que não?). É uma torneira que mostra quantos litros de água você está gastando, ou, se preferir, quanto dinheiro está mandando embora pelo ralo, em moeda corrente mesmo.
Isso aí deveria ser instalado nas casas, escolas, banheiros públicos, empresas, efim, em todo lugar. Afinal, já diz o velho ditado que a parte mais sensível do corpo humano é o bolso. Se o pessoal não se economiza por consciência ambiental, então só resta a maneira clássica de fazer isso.
O autor do projeto é Young-Suk Kim e fiquei sabendo pela newsletter do Yanko Design.
A esfinge do mercado
“Mas o mercado quer!” Nas minhas consultorias em identidade corporativa, ouço essa frase o tempo todo, principalmente quando o resultado do diagnóstico diz que a empresa possui um atributo essencial que contradiz o que está na moda.
Sempre digo que é mais fácil a gente parecer o que é de verdade. Mais fácil, mais seguro, mais barato, mais honesto e mais lucrativo, por estranho que possa parecer. O problema é que os gestores andam intoxicados por revistas, livros e consultores que não param de repetir mantras como “inove ou o mercado te mata”, “mercado quer isso ou aquilo”. Assim, é compreensível o susto que um empresário leva quando preciso dizer a ele que a sua empresa é conservadora na sua essência (esmagadora maioria), ou que ela não tem uma preocupação ambiental que se destaque da média. É aí que eu ouço: “Mas o mercado quer o contrário! Preciso passar uma imagem de inovação e preocupação ambiental! A identidade é importante, mas tenho que dar o que os clientes querem para sobreviver no meu negócio!!”.
Sobreviver fazendo teatro? Na minha opinião, até uma companhia de teatro precisa ser fiel à sua identidade. A tentação de ignorar o que se é e divulgar o que você acha que o mercado quer ouvir é quase irresistível. Mas fuja dela se quiser sobreviver, e, principalmente, se quiser se destacar. Não estou dizendo que a empresa não deva inovar ou ter cuidados ambientais; mas se ela não se destaca das outras por isso, é porque esse não é seu principal diferencial, não adianta comunicar e não ser.
O que o mercado quer mesmo é verdade. É melhor você assumir suas características e torná-las um diferencial positivo, do que investir muito tempo, muito dinheiro e muito desgaste para mudar a sua essência (sem garantias de conseguir) e ficar igualzinho ao que todo mundo diz que é (inovador, ético, valorizador de pessoas, respeitador do meio ambiente, blá,blá,blá…).
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