Se tem uma coisa que eu morro de medo é ganhar livro de presente para resenhar, principalmente se conheço pessoalmente o autor. É que quem me acompanha aqui sabe que não sou exatamente gentil nas minhas resenhas; eu realmente entrego tudo o que não gosto na obra e faço crítica bem duras.
Mas quando o Ricardo Lugris me deu o “Montar e Partir” para resenhar, fiquei tranquila. Em parte porque já tinha lido o outro livro dele (do qual tive a oportunidade de desenhar o mapa do encarte) e em parte porque alguns dos textos publicados aqui eu já conhecia dos relatos de viagens que acompanho há anos.
Contextualizando: aprendi a pilotar motos aos 39 anos de idade (viu, você ainda pode!) para poder viajar mais tranquilamente com meu marido em nossas incursões pela América do Sul.
Cruzei a Cordilheira dos Andes várias vezes, troquei de motos algumas outras, aprendi muita coisa e vivi aventuras extraordinárias nessa experiência (as fotos, mapas e relatos ainda estão embalsamados no site www.duasmotos.com, para quem tiver curiosidade). Depois que viemos para a Alemanha, chegamos a viajar por aqui também, mas o momento, a geografia e a situação eram outras, de modo que acabamos vendendo as motos.
Mas foi numa das nossas primeira viagens, quando eu ainda ia na garupa, que conhecemos o Ricardo Lugris. Foi em 2004, na Península Valdés, litoral argentino (o encontro está relatado no livro), quando fomos visitar uma colônia de pinguins gigantesca, uma loberia cheia de filhotes e também vimos orcas. A gente se conheceu em uma pousada de Puerto Pyramide, a baía que concentrava a maior parte das construções da semi-ilha.
Desde então, passei a acompanhar à distância as viagens do Ricardo, que já percorreu quase todos os continentes e foi a lugares inimagináveis. Seus relatos são sempre muito bem escritos e recheados de informações históricas, que ajudam muito a contextualizar o lugar.
No livro anterior, o ótimo “Tempo em equilíbrio”, ele vai de Paris a Singapura sozinho, e o texto é uma espécie de diário da jornada.
Já em “Montar e partir”, Ricardo divide os capítulos em temas mais poético/filosóficos e eventualmente insere um relato mais detalhado de alguma viagem para ilustrar suas reflexões (caprichosamente marcado por uma tipografia diferente).
Ele fala de diálogos trocados com outros viajantes e habitantes locais, situações tensas e complicadíssimas, lugares de difícil acesso, surpresas e frustrações, limites e desafios, das tradições, das saudades, dos privilégios, das decisões e das tristezas e, como não poderia deixar de ser, dos finais e recomeços. Tem até dicas preciosas sobre como tornar a viagem da garupa mais confortável, veja só.
Para mim, leitora contumaz, foi um prazer e uma surpresa ver a informação organizada dessa nova maneira. São como crônicas que refletem sobre o ato de viajar, e mais especificamente sobre a experiência única e extraordinária que é viajar de moto.
No final ainda tem fotos bacanas para a gente ter uma ideia dos lugares descritos com tanto esmero.
Mas olha, para não deixar de dar meus pitacos, vou ser sincera e dizer que senti falta de uma coisa: dos mapas! Mesmo sabendo que não era a intenção separar os capítulos pela geografia, ainda assim tive que localizar mentalmente onde a parte da narrativa que citava trechos de viagem se passava. Mas isso é coisa minha, de louca por mapas. Faço isso com qualquer livro; se for de viagem, então, fica impossível prescindir deles.
No mais, só tenho a recomendar, não apenas esse livro pra lá de inspirador, mas também o anterior; vale muito a pena ir na garupa desse viajante. Quando será que vem o próximo? Ansiosa para ler, pois já sei que vou recomendar também…
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Se você está na Europa, acho que o Ricardo (que mora na França) deve ter alguns exemplares para enviar. Comente aqui que coloco vocês em contato.
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