Olhando a capa dura maravilhosa (já disse e reitero: sou dessas que julga o livro pela capa SIM), a edição caprichada e a descrição da história, simplesmente não consegui resistir e levei para casa “Unser Zweites Leben” (tradução livre: Nossa segunda vida), do engenheiro francês especializado em energia solar Alain Monnier.
O livro, escrito em 2008, auge do jogo “Second Life“, fala de pessoas cuja vida só faz sentido porque têm seu avatar no mundo virtual para chamar de seu. Para quem não conhece, o Second Life é uma espécie de realidade paralela onde você pode escolher a aparência de seu personagem (o tal avatar) e viver uma vida como se fosse real: é possível viver, trabalhar, estudar, conhecer pessoas, ir a festas, vestir-se, fazer sexo, fazer turismo, tudo no ambiente virtual. No ápice da fama, quase todas as empresas reais tinham ilhas, prédios e escritórios lá. Universidades e escolas de língua imaginaram que esse seria um excelente ambiente de aprendizado, mas no final descobriram que as pessoas só estavam lá para conhecer outras e se relacionar. As iniciativas educacionais não tiveram muito sucesso; os bancos também acabaram saindo depois de gastar um bom dinheiro instalando filiais na Second Life.
Na história, o autor faz um recorte da vida real e virtual de alguns personagens; praticamente todos têm coisas mal resolvidas ou alguma insatisfação na vidade real, sejam doenças terminais, depressão, ansiedade, timidez extrema, insegurança, etc. Mas no Second Life (que em alemão é Zweites Leben) tudo muda; como cada um escolhe seu avatar, os corpos são exatamente como seus donos desejam. E a simulação é bem completa; há ricos e pobres. Alguns entram como ricos (na vida real) comprando avatares mais caros e até famosos (Marylin Monroe e Hitler aparecem na história; eles valem uma fortuna); promovem festas e compram roupas caras (pois tudo se paga com o dinheiro virtual, que pode ser trocado por dólares reais). As pessoas comuns começam tentando descobrir como o negócio funciona; algumas se adaptam bem e conseguem popularidade, patrocinadores e até amigos.
Como na vida real, os influenciadores de opinião também ganham dinheiro de empresas para usar determinadas marcas. Aí a gente vê personagens, como Isidro, um bon vivant riquíssimo na Second Life, acompanhando o número de seguidores minuto a minuto de maneira quase obsessiva. A sessão de sexo entre ele e o avatar de Joana D’Arc é visto por milhões de pessoas e ele ganha muito dinheiro virtual com o feito. Todas as suas ações são baseadas nas reações dos seguidores; ele não desvia sua atenção disso por nada e esse é o segredo do seu sucesso. Na vida real, é um homem doente terminal que só tem um amigo, Fernando, que prefere se afundar nos livros do que na internet.
Na minha opinião, o problema da obra é que ela é um recorte de histórias, mas não tem uma linha mestra que prenda a atenção. Apresenta e descarta vários personagens pelo caminho, como se fosse um trailer de demonstração do jogo. Há crimes, amores e traições, mas nada muito refinado ou especialmente interessante. O excesso de clichês também incomoda um pouco.
Andei fazendo umas pesquisas superficiais e o Second Life, apesar de perder participantes para o Facebook e outras redes sociais (que também não deixam de ser um jogo de popularidade de avatares, se a gente analisar bem), continua com impressionantes 900 mil usuários ativos por mês ao redor do mundo.
Como literatura, achei bem fraco. Mas como uma análise do comportamento humano e sua insaciável necessidade de ser popular, penso que vale a pena.
Minha conclusão é que, no final das contas, todo mundo só quer mesmo é ser amado.
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