Encontrei “How to see the world”, do professor de mídia, cultura e comunicação da New York University, Nicholas Mirzoeff, num cantinho da livraria do Kultur Forum, em Berlim. Estava saindo meio atordoada da belíssima exposição Boticelli, que reúne originais e releituras, quando dei de cara com essa brochura linda da coleção A Pelican Introduction (já vi que tem outros títulos ótimos).
Como resistir a alguém que se propõe a ensinar a gente a ver o mundo? Dica: não resista. Vale cada sílaba impressa. Os capítulos são divididos em: Como ver o mundo; Como ver você mesmo; Como pensamos sobre o ato de ver; O mundo da guerra; O mundo da tela; Cidades mundiais, mundos de cidades; O mundo em mudança; Mudando o mundo; Ativismo visual.
É muita coisa para resumir numa resenha de uma página, mas, na minha opinião, já na introdução ele mostra a que veio e apresenta números impressionantes (e atuais, pois o livro é do final de 2015) como o fato de 52% da população da Nigéria ter menos de 15 anos (assim como 40% de toda a população da África Sub-Sahariana). Tanto na Índia como na China, mais da metade da população tem menos de 25 anos de idade. Que 6 bilhões de horas de vídeo são assistidos todos os meses no Youtube, uma hora para cada pessoa na Terra. Somente no ano de 2014, um trilhão de fotos foram tiradas; um belo número, se a gente considerar que até 2011, todas as fotos existentes somavam 3 a 5 trilhões. Até o final da década, segundo o Google, serão 5 bilhões de pessoas conectadas à internet (em 2012, mais de 33% da população já tinha acesso).
Ele conclui que, querendo ou não, somos uma sociedade cada vez mais visual e a tendência é aumentar a comunicação por esse meio, uma vez que o mundo é majoritariamente jovem e vive nas cidades. E a internet não é mais um meio de comunicação de massa. É o primeiro meio universal do Planeta Terra.
Ele mostra que isso também mudou a maneira como vemos as coisas e o mundo.
Nicholas usa como exemplo uma foto da Nasa, de 1972, tirada pelo astronauta Jack Schmitt, tripulante da Apollo 17. A imagem intitulada “Mármore Azul” é uma das mais reproduzidas até hoje, pois pela primeira vez o planeta aparece inteiro numa fotografia. Ele a compara com a mesma foto tirada em 2012, que utiliza uma montagem de várias imagens de satélite com as cores e distorções corrigidas. É mais exata que a foto original, mas é falsa. É uma montagem. Ninguém foi lá e fez o click. A imagem é uma combinação de informações mais precisas, porém, parciais. É assim que estamos vendo o mundo agora.
E mais; no mesmo ano de 2012, o astronauta japonês Aki Hoshide estava na mesma situação de Jack Schmitt, mas em vez de fotografar a Terra vista do espaço, ele virou a câmera e fez uma selfie. A Terra aparece em segundo plano, no reflexo do seu capacete. Mais emblemático, impossível.
Não à toa, o primeiro capítulo é todo sobre o fenômeno das selfies. O bacana é que o autor não gasta tempo fazendo críticas a “essa juventude que está aí”. Ele analisa fatos, tendências e nos ajuda a ver esse mundo tão surpreendente, conectado, imediatista e cada vez mais visual.
Mirzoeff afirma que cultura visual envolve as coisas que nós vemos, o modelo mental que define como e o que nós vemos, e o que podemos fazer com o resultado disso. Cultura visual é a relação entre o que percebemos visível e o nome que damos ao que está sendo visto. E isso implica em conhecer também o que é invisível, o que não percebemos.
Ele ainda diz que o conceito de cultura visual mudou de 1990 para cá; antes, tínhamos que ir ao cinema para ver filmes, ao museu para ver exposições, ou visitar alguém em casa para ver suas fotografias. E ele diz mais: “Ver não é acreditar. É algo que nós fazemos, uma espécie de performance”.
Olha, vale ler o livro inteiro. Ele fala sobre os grafites, os mapas, a diferença conceitual entre as atuais selfies e os antigos auto-retratos, as mudanças climáticas, a arte contemporânea, o fenômeno da urbanização, a comunicação e a conexão nas cidades, e, principalmente, sobre como é possível mudar o mundo por meio de mensagens visuais.
Vai lá. Garanto que você não vai se arrepender.
Renata Rubim
Muito bom, deve ser mega interessante!!!!!!!!!!!!!!!!!! Valeu 🙂
Ricardo Hurmus
Bela dica, vai para lista de leitura.
Nana
Com certeza, nossa vida está muito visual e acabamos perdendo bons momentos nos preocupando com o melhor ângulo.
Bj e fk c Deus.
Nana
http://procurandoamigosvirtuais.blogspot.com.br