Dando continuidade à minha saga de ler o máximo de coisas possíveis em alemão em uma linguagem mais acessível, esbarrei esses dias com a autobiografia do Sidney Sheldon (Mein Leben zwischen den Zeilen).
Para quem não está ligando o nome à pessoa, Sheldon foi o criador das séries televisivas “Jeannie é um gênio” e “Casal 20“, além de uma dúzia de best-sellers com mulheres corajosas como protagonistas.
A história começa com as dificuldades da infância e adolescência; Sidney nasceu entre as guerras e era adolescente quando os EUA, sua terra natal, sofreu a pior depressão de sua história: a queda da bolsa em 1929. Muita gente se suicidou e o país mergulhou no desespero; as perspectivas só melhoraram depois da segunda guerra. Nesse tempo, tanto o pai, como a mãe, quanto ele, mantinham cerca de 3 empregos cada um e mal conseguiam comprar comida. Como tinha que trabalhar nos 3 turnos (inclusive nos finais de semana), o moço não pode fazer faculdade, mesmo tendo conseguido uma bolsa de estudos.
Diagnosticado muitos anos depois como bipolar, ele pensou em tentar suicídio aos 16 anos. Foi salvo por seu pai, um vendedor daqueles boa gente, mas sempre metido nos mais diversos rolos, que propôs saírem para dar uma volta no parque antes do tal ato (ele foi pego no flagra abrindo uma caixa de comprimidos). Para convencê-lo a desistir, o pai usou um argumento ótimo. É que o grande sonho de Sidney era ser escritor (o rapaz adorava ler). Aí o pai lhe disse que cada dia é uma página na nossa biografia e ninguém sabe o que está escrito antes de lê-la. Ao cometer suicídio, ele estava fechando o livro sem tê-lo lido todo. Ainda haveria muitas reviravoltas, aventuras, amores, tristezas, desafios, experiências diversas que o moço morreria sem saber se resolvesse encerrar a leitura naquele momento. Esse argumento é mesmo matador para quem ama ler; o rapaz pensou melhor e resolveu esperar para ver como sua história iria se desenrolar. Fez bem.
Sidney era um empreendedor nato, além de grande sonhador. Ele queria muito ficar famoso no mundo inteiro (conforme uma cartomante disse para sua mãe) e trabalhar em Hollywood. Assumiu compromissos no limite de suas capacidades, arriscou, foi atrás e conseguiu o que queria.
No livro, o escritor parece bem deslumbrado com as figuras famosas do cinema com quem teve a oportunidade de trabalhar; parece nunca acreditar que conseguiu “chegar lá”. Ele ganhou um Oscar como roteirista de cinema e foi indicado outras vezes, além de ter ganho prêmios diversos na televisão e no teatro, antes de descobrir a liberdade e o prazer de escrever romances (e não se preocupar com cenários, atores, diretores e limitações de produção).
Uma coisa que me chamou muito atenção foi que roteiristas e autores quase sempre trabalhavam em dupla (ou mais). Nunca escrevi nada de ficção, mas gostaria de ter a experiência de trabalhar em equipe num texto. Deve ser um exercício de criatividade bacana.
Comecei a ler Sidney Sheldon quando estava começando a ler em inglês; seus textos são ótimos para isso, pois a redação é clara, as frases são curtas e há muitos diálogos. Puro entretenimento, sem nenhum compromisso com a verdade ou com alguma lição no final. É como assistir um filme de James Bond; desligue o sensor de realidade, relaxe e divirta-se. As heroínas quase sempre são mulheres fortes, inteligentes e corajosas que sofreram algum tipo de injustiça e resolvem dar a volta por cima em grande estilo. As aventuras e reviravoltas cheias de criatividade e surpresas acontecem em vários lugares do mundo (que ele visitou para adequar melhor os cenários).
Recomendo bastante.
Comentários